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Em 14/04/2016 às 09h33

Indecisão Política - Sentado no sofá: em quem acreditar?

Sentado no sofá: em quem acreditar?

Walber Gonçalves de Souza

                João resume bem quem é o cidadão brasileiro. Estudou em escola pública, vive em uma cidade de porte médio, é casado e pai de duas filhas. Sai todos os dias para trabalhar.

                A família de João enquadrada-se na denominada "nova classe média". Possui casa própria, um carro modesto, consegue viajar uma vez por ano de férias, pode-se dar ao luxo de esporadicamente fazer um churrasquinho, reunindo os amigos ao som da alguma música.

                João em especial tem um costume, que faz com que ele seja pertencente a um pequeno grupo de brasileiros que gostam de ler. João gosta de informar-se dos fatos que estão acontecendo, de ler os jornais, revistas, de ver os telejornais, busca um canal aqui outro li, sempre em busca de alguma notícia, de algum ponto de vista. Todas os dias lá está João bem acomodado no sofá curtindo suas notícias.

                Entretanto, João tem notado algo estranho ao se deparar cotidianamente com as notícias.  Começou a perceber que as informações que ele recebia na verdade não o informava mas demonstrava o quanto a sua cidade, o seu país estão à beira de um colapso de informações.

                Numa noite estava vendo um programa de entrevistas, com dois professores de duas universidades renomadas do nosso país, um da USP e o outro da UFMG. A análise do programa era a situação atual do país. Os professores defendiam lados distintos, enquanto um usava a constituição para defender o impeachement da presidente o outro usava o mesmo livro para dizer que era algo errado.

                Noutra noite ele estava lendo sobre a "Operação Lava Jato". Num artigo um jurista e articulista defendia os atos do Juiz Sérgio Moro, num outro, um diferente jurista e articulista dizia que o mencionado juiz está agindo de forma inconstitucional.

                João começou a notar também que sempre quando estava na roda de amigos acontecia algo esquisito. Dependendo do grupo a sua opinião era tratada como algo que merecia a atenção, bacana, de ideias corretas. Já em conversa com outro grupo, mas mantendo a mesma opinião, seu ponto de visto era visto como algo de gente que não pensa, que segue tudo que a mídia fala, que ele não conseguia pensar por si só, portanto, de gente desinformada, alienada, burra.

                Aos poucos João foi percebendo que o que de fato importava não era a sua opinião, mas o que as pessoas queriam ouvir. Começou a notar que cada um dos grupos muito mais que a verdade estava apenas querendo que as pessoas concordassem com as suas convicções, independente se corretas ou não.

                Sentado no sofá João passou a ficar perplexo como o Brasil perdeu o norte daquilo que é certo ou errado. Ele sabe que o contraditório é essencial, necessário e que faz o pensamento desenvolver-se. Mas  sabe também que quando o contraditório é baseado em mentiras não há argumentações que a justifiquem. O problema é saber quem está sendo mentiroso e leviano.

                Sentado no sofá, lendo ou vendo algum telejornal, João já não sabe mais em quem acreditar pois todas as informações sempre são alicerçadas por pessoas que pelo menos merecem a sua consideração.

 

Walber Gonçalves de Souza é professor do Centro Universitário de Caratinga.



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