A advogada muriaeense Rosana Clark faleceu na madrugada do último domingo, 28, em Belo Horizonte. Ela estava trabalhando desde 2010 na capital mineira e morreu com 47 anos. Segundo informações ela foi internada às pressas no sábado com pneumonia, vindo a falecer no domingo. Ela foi uma das advogadas que mais lutou pelos direitos da mulher e todo tipo de preconceitos em Muriaé. Seu corpo foi sepultado em Belo Horizonte e ela deixa uma filha. Veja abaixo a entrevista concedida pela advogada em março deste ano para a Gazeta de Muriaé:

Considerada uma das melhores advogadas da cidade, Rosana Clark viu em sua carreira uma luta que milhões de cidadãos passam diariamente: a guerra contra o preconceito. Durante dois anos, ela esteve a frente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher e realizou várias ações com o objetivo de valorizar a força do sexo feminino no município.

Hoje, Rosana ocupa um cargo importante na Assembleia Legislativa e defende classes consideradas minorias pela sociedade. Mulher e negra, a advogada afirmou que já foi alvo de preconceito e afirma que o caminho é lutar contra a impunidade.

Em entrevista ao Gazeta de Muriaé, Rosana Clark falou sobre a importância da lei para preservar o direito de negros, mulheres e homossexuais e como o trabalho em conjunto é precioso para obter vitórias entre classes.

 Gazeta de Muriaé_ Rosana, você é conhecida na cidade pela luta em defesa dos direitos da mulher. Como surgiu o interesse pela causa?

Rosana Clark_ Surgiu através de uma pesquisa cientifica na faculdade e pelo interesse em conhecer mais profundamente o problema da violência domestica e familiar contra a mulher.

Gazeta de Muriaé_ Como você avalia, atualmente, as leis que protegem as mulheres de agressões e maus tratos?
Rosana Clark_ As leis, apesar de todas as críticas, são ótimas. O difícil é convencer os aplicadores que ela é fundamental como um instrumento de luta para erradicar a violência domestica e proteger as mulheres.

Gazeta de Muriaé_ Você participa do Conselho da Mulher em Muriaé. Quais têm sido as principais ações que vocês têm promovido?
Rosana Clark_ Atualmente estou morando na capital Belo Horizonte, trabalhando na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, mas continuo acompanhando a luta das mulheres da cidade. Em Muriaé, o Conselho luta para garantir a efetivação de politicas públicas que visem promover o bem estar e a participação das mulheres nos diversos setores da sociedade. Não participei este ano das ações do CMDM, mas acredito que alguma coisa interessante rolou.

Gazeta de Muriaé_ Esta semana se comemora o Dia da Luta contra a Discriminação Racial. Você, como mulher e negra, como vê a evolução da luta contra o preconceito na cidade?
Rosana Clark_ A luta contra todo tipo de preconceito está em pauta atualmente, contudo, muita coisa ainda tem de ser feita, porque a discriminação racial é uma grave violação aos direitos e garantias fundamentais. Sinceramente eu desconheço as politicas públicas neste sentido em Muriaé, mas tenho certeza que deve existir programas e projetos nessa área.

Gazeta de Muriaé_ Você já sentiu algum tipo de discriminação - tanto no âmbito profissional quanto pessoal, por ser mulher e negra?
Rosana Clark_ É claro que sim. A gente sofre discriminação o tempo todo desde o trabalho até o lazer. E a mulher negra sofre essa discriminação duas vezes por ser mulher e ser negra. É uma luta que os movimentos negros e o de mulheres têm travado ao longo de anos, mas com certeza muita luta ainda vem pela frente. Os avanços também podem ser vistos através da ascensão de várias pessoas afro descendentes em cargos públicos, na música, nas artes, etc.

Gazeta de Muriaé_ Um projeto de lei que tem gerado polêmica é a criminalização da homofobia no Brasil. Você acredita que as leis asseguram o direito da população quanto a discriminação?
Rosana Clark_ Acredito que sim e inclusive redigi um projeto que lei que foi apresentado aqui na Assembleia criando o Disque Denuncia contra a Homofobia. Temos que lutar e garantir um direito previsto na Constituição Federal que prevê uma sociedade fundada na ideia de cidadania e dignidade humana.

 
Gazeta de Muriaé_ Quais seus próximos projetos envolvendo o Conselho da Mulher?
Rosana Clark_ Infelizmente por eu não estar mais morando em Muriaé, não sei ainda quais são os planos do conselho, mas acredito que os projetos preveem a melhoria das condições de vida das mulheres na cidade de Muriaé.

 
Gazeta de Muriaé_ Para finalizar a nossa entrevista, qual o conselho você daria para mulheres e negros que vivem a discriminação no dia-a-dia.

Rosana Clark_ Eu só posso dizer que lutem dia e noite incansavelmente contra toda forma de discriminação.