Gazeta de Muriaé
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Em 22/11/2010 às 10h40

"A criança não pode ficar presa integralmente ao universo virtual"

Maria Lúcia é professora há mais de 40 anos

Educadora há mais de 50 anos, a professora Maria Lúcia de Castro Mayrink é considerada um dos ícones da educação infantil no município. Durante a maior parte da sua vida, a muriaeense trabalhou dentro de escolas de ensino fundamental e até hoje não consegue ficar longe das crianças que, segundo ela, possuem uma energia contagiante.                                            

Há mais de 30 anos a frente da Escola Pinguinho de Gente, Maria Lúcia falou com a Gazeta de Muriaé sobre educação infantil, as diferenças das crianças do século passado para as atuais, os problemas causados que as mídias digitais podem trazer, caso não dosados e quais seus planos futuros dentro do setor.



Gazeta de Muriaé_ Muito obrigado por nos receber, agora gostaríamos de saber um pouco mais sobre a sua carreira. Você começou como professora?

Maria Lúcia de Castro Mayrink_ Comecei a trabalhar em 1955, mas não era no setor de educação, mas sim na Prefeitura de Muriaé, na administração do Prefeito Antônio Canedo. Foi uma experiência muito boa para mim porque foi lá que eu aprendi a lidar com o público. Eu secretariava o prefeito, e as vezes, trabalhava no setor de contabilidade, mas eu atendia mesmo as pessoas que queriam falar com o prefeito. Em 1961 fui nomeada professora de música e canto para a Escola Antonio Canedo. Trabalhei lá muito anos, depois trabalhei em vários setores, como a merenda escolar e sempre era requisitada. Trabalhei na inspetoria de ensino. Acrescentei muito conhecimento na minha carreira e aprendi muito com as pessoas que trabalhei. Sempre estive cercada por pessoas que não se importavam em ensinar. Me aposentei no Estado lecionando na escola do município de Vermelho.

Gazeta de Muriaé_ Como surgiu o interesse em trabalhar com o público infantil?

Maria Lúcia_ A idéia surgiu através do Estado, que não iria mais oferecer matriculas para menores de quatro anos. Então pensei na possibilidade de abrir uma escola para aceitar estas crianças que ficariam fora do ensino infantil. No início eu tive um grupo de professoras extremamente eficientes, sendo que hoje algumas já estão aposentadas e algumas ainda na ativa e começamos com 60 crianças. Nosso trabalho foi se desenvolvendo. A energia que estas crianças passam para gente não deixa ninguém desanimado. Hoje, o Pinginho de Gente tenta trabalhar de uma maneira diferente das demais escolas, com acompanhamento individualizado.

Gazeta de Muriaé_ O Pinguinho de Gente já existe há mais de 20 anos em Muriaé. Quais tem sido as principais mudanças que vocês adotaram na postura disciplinar dos alunos?

Maria Lúcia_ Acho que quando a criança se sente envolvida no processo e não manifesta problemas disciplinares. Sempre encontramos crianças hiperativas, mas isso não afeta o andamento do trabalho da escola.

Gazeta de Muriaé_ Na sua opinião, como anda a educação infantil na cidade?

Maria Lúcia_ Melhorou muito. Todos estão hoje em busca da excelência no ensino. Muriaé é uma cidade privilegiada porque possui boas escolas e o professorado aqui é muito entusiasmado. Acredito que os estudantes de Muriaé estejam num bom nível.

Gazeta de Muriaé_ Qual é o principal ensinamento que a criança deve receber dos professores.

Maria Lúcia_ Acho que acima de tudo, temos que trabalhar com as crianças noções de ética, respeito, e a partir disso a criança vai se desenvolvendo. Ética é muito importante na vida de qualquer pessoa e não apenas das crianças. Com elas, procuramos assuntos que despertem o interesse das crianças para o estudo. A escola hoje deve ser um lugar bem prazeroso para que as crianças aprendam sem se sentirem desmotivadas.

Gazeta de Muriaé_ Hoje vemos que as crianças e os computadores vivem uma relação de hibridismo. Como a senhora vê esta ligação?

Maria Lúcia_ As crianças sabem lidar muito bem com objetos eletrônicos, porém, eu acho que o computador deve ser dosado. A criança não pode ficar presa integralmente ao universo virtual. A leitura faz falta para a criança. Aqui, por exemplo, tentamos trabalhar muito com a literatura, através de um clube da leitura que possuímos. Se não estimular a criança desde cedo o gosto pelo livro, não vai ser com 10 anos que ela vai desenvolver este hábito.

Gazeta de Muriaé_ As crianças de hoje em dia são muito diferentes das de 20 anos atrás

Maria Lúcia_ Não vejo grande diferença da criança de hoje para a de ontem. Eu vejo apenas uma facilidade agora no acesso a escola. Antigamente nem todas as mães trabalhavam, então muita criança relutava em vir para a escola, porque tinha a mãe o dia todo. Hoje em dia a maioria das mães trabalham e a escola preenche esta lacuna na criança.

Gazeta de Muriaé_ Quais são seus planos para o futuro?

Maria Lúcia_ Pretendemos fazer mudanças na escola. Vamos mudar toda a decoração da escola. Estou feliz porque tem um grupo de pais se mobilizando para nos ajudar. Acredito que, por conta de nossa caminhada nestes 38 anos, a gente tem credibilidade, já que a nossa proposta é avançada com relação a educação infantil.    

Gazeta de Muriaé_ Você acha que o sistema de educação infantil atual sofre algum desfavor?

Maria Lúcia_ Acho que as escolas possuem uma estrutura muito boa, qualidade nas merendas escolares, porém, ainda pecam em cursos profissionalizantes para os professores. Muriaé ainda é uma cidade em que a educação é valorizada. Somos um povo de sorte.


 

Autor: André Ricardo

Tags: entrevista, educação,



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