Gazeta de Muriaé
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Em 16/11/2010 às 10h03

"Eu fiz muito para todas as classes"

Jão Paulo Goulart

Você pode não conhecê-lo pessoalmente mas já, com toda certeza, já passou por alguma das obras dele. Engenheiro Civil há quase 50 anos, João Paulo Goulart, 73, faz parte da história de Muriaé como um dos homens que ajudou a construir a atual cara da cidade. Entre prédios e comunidades, pode-se destacar o planejamento do Edifício Alice Goulart e o Bairro João XXIII. Em entrevista exclusiva ao Gazeta de Muriaé, João Paulo falou um pouco sobre seus projetos, como vê a expansão civil da cidade e quais devem ser os próximos passos para o desenvolvimento do município.

 

Gazeta de Muriaé_ João Paulo, fale um pouco sobre a sua carreira para que os nossos leitores conheçam um pouco mais sobre você.

João Paulo Goulart_ Formei em Engenharia Civil pela Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais em 1962. Um ano depois vim para Muriaé iniciar a minha carreira. Foi muito difícil começar a trabalhar na cidade, porque não tinha obra nenhuma. Fiquei durante 12 meses estudando porque não tinha trabalho. O meu primeiro projeto foi uma residência Praça Coronel Pacheco de Medeiros. Depois comecei a desenvolver outros projetos e achei que era a hora de fundar uma firma de construção civil. Trabalhei com meu tio, que na ocasião era deputado estadual e construí várias pontes, fóruns, cadeias, escolas e outras obras para o governo. Hoje a marca JP possui duas firmas: a JP Engenharia e Construções Ltda. e a Construtora Sudeste Mineira.

 

Gazeta de Muriaé_ Você foi responsável pela criação de alguns dos principais bairros da cidade. Como você vê suas obras, mais de duas décadas depois.

João Paulo_ Modéstia a parte, fui o responsável pela maioria dos bairros de Muriaé. Bairros estes que eu chamo de comunidades estudadas, planejadas e urbanizadas. O meu primeiro projeto de bairro foi o Coronel Izalino, construído para poder integrar os dois lados do Rio Muriaé. Não havia na década de 1960 nenhuma obra do outro lado das margens do rio. Porém, para iniciar as obras houve um grande entrave. Tive que comprar 30 mil metros quadrados de 16 proprietários. A segunda dificuldade foi ter que fazer uma ponte para dar acesso a população ao bairro. Na ocasião eu lutei e consegui comprar dos proprietários o terreno e construí uma ponte que existiu até dois anos atrás. Após isso veio a Gávea, o São Cristovão, fiz o termino do BNH, o João XXIII, onde eu comprei a área e levantei 300 casas na época. A criação foi de extrema relevância, já que montamos uma cooperativa e na ocasião o bairro serviu para abrigar os membros. A primeira parte do Inconfidência também foi feita por nós, o Vale do Castelo e estamos fazendo agora o Alto do Castelo, que é uma comunidade de 220 lotes endereçados a classe média e baixa. Também projetei e viabilizei o Planalto no Governo Fraga, mas infelizmente eu não construí por problemas políticos. Todos eles foram bem planejados e tenho certeza que seus moradores se orgulham deles. Vejo todos estes bairros com grande orgulho porque assim percebo que contribuí com os moradores da cidade.

 

Gazeta de Muriaé_ Até o início da década de 2000 a cidade era dominada por residências. Hoje vemos uma realidade diferente, com prédios tomando conta de grande parte do Centro e da Barra, principalmente. Como você vê esta expansão

João Paulo_ Com o crescimento da população e a demanda pela procura de residências no centro da cidade, é natural que se crie moradias e comércios verticais. Sou adepto desse conceito porque ele é muito bem organizado, desde que seja bem projetada e se respeite a individualidade de cada um. Este tipo de construção também acaba barateando na hora da compra. Por exemplo, num bom local, um terreno de 300 metros quadrados está valendo cerca de R$ 350 mil. Sou pioneiro na construção de prédios verticais com a construção do Edifício Alice Goulart, que tem 17 andares.  Então, esta tendência é geral em todas as cidades.

 

Gazeta de Muriaé_ É nítida a evolução da engenharia civil na cidade. O mercado está muito competitivo?

João Paulo_ O mercado está, sim, muito competitivo e por isso é preciso que a população identifique os bons profissionais. Existe muitas construções que só tem aparência por fora e por dentro é sofrível. Eu sempre primei por fazer o que prometo. Sempre explico aos clientes sobre a fonte de estudo e a estrutura do imóvel.

 

Gazeta de Muriaé_ Daqui a alguns anos, o centro estará tomado por prédios. Será que, devido ao aumento da população, haverá uma nova estratégia para o crescimento físico da cidade?

João Paulo_ A estratégia é o centro expandir. É uma bobagem achar que o centro não tem mais espaço para a construção. Sempre encontramos uma vertente saindo para outro ambiente. No caso do Alto Castelo, ele está ligando dois bairros. Ate bem pouco tempo atrás ninguém imaginava isso, mas ele está lá.

 

Gazeta de Muriaé_ O crescimento da cidade, refletida na ascensão da engenharia civil, pode ser comparada com cidades maiores, como Juiz de Fora ou Governador Valadares?

João Paulo_ Nas devidas proporções, Muriaé está a frente das outras duas cidades. Nossos prédios são de muito bom gosto e bem projetados, por isso acho que Muriaé está bem melhor que Juiz de Fora. Com relação a Governador Valadares, em número de prédios altos, Muriaé já teve ter passado a cidade. Se você observar fotos da cidade na década de 50 e hoje, você vê nitidamente a grande diferença.

 

Gazeta de Muriaé_ Como você vê o município daqui há uma década?

João Paulo_ A gente precisa ainda de muito investimento. O prefeito atual está se esforçando para atacar problemas urgentes como o interceptor de esgoto. Mais ainda precisa de investir muito. Os prefeitos que vão suceder José Braz têm que ser prefeitos dinâmicos, conhecedores da matéria e ter uma equipe técnica. O transito, por exemplo, é um dos grande problemas da cidade e isso só vai melhorar com a extensão da JK até a Barra e uma série de providencias que devem ser tomadas e o mais importante, a fiscalização por parte dos prefeitos.

 

Gazeta de Muriaé_ Qual a principal contribuição que você trouxe a cidade?

João Paulo_ Fui um bandeirante em Muriaé. Se você observa o Alice Goulart, percebe que o prêmio trouxe muitos benefícios para a cidade. Por que você acha que Muriaé tem uma série de bons profissionais? Porque houve através do edifício a adaptação física para a instalação destes profissionais. Se não houvessem salas e estrutura eles não viriam. Em 1982 o Alice Goulart foi entregue e faz 28 anos que ele está em Muriaé. Após ele vieram o Bronze e o Prata.

 

Gazeta de Muriaé_ Qual foi o seu projeto favorito na cidade?

João Paulo_ Realmente o Alice Goulart foi meu projeto favorito. Mas tenho um carinho imenso com todos eles. Também foi muito gratificante criar o João XXIII por ter passado por todo o processo até ele se tornar um bairro como é conhecido hoje. O meu trabalho não ficou somente registrado por grandes prédios. A maioria dos meus trabalhos para pessoas de baixa renda. Eu fiz muito para todas as classes.

 

Autor: André Ricardo

Tags: entrevista, economia, infra-estrutura, engenharia, cidade, muriae



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