Gazeta de Muriaé
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Em 13/02/2009 às 10h10

Tudo é uma questão de atitude

Entre serpentinas, fantasias, purpurina e muito samba no pé, o carnaval segue no imaginário popular como uma época de sexualidade aflorada. Porém pesquisas mostram que o número de casos de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) não aumenta nessa época do ano. Em contrapartida, é nos meses de julho e agosto que se verifica o aumento do número de gravidez indesejada e da ocorrência de gonorréia, sífilis e tricomoníase. Como possível explicação para o aumento significativo das doenças nos meses de julho e agosto, é que a época em que as pessoas deixam de usar o preservativo. As campanhas para uso da camisinha só acontecem no carnaval ou no fim de novembro, começo de dezembro – dado o dia mundial da AIDS.

É necessário a realização de campanhas pelo uso do preservativo durante o ano todo e que elas tratem das DSTs como um todo e não se foquem somente no risco do HIV-Aids. Essas outras DSTs são simples de diagnosticar e de tratar, porém ainda observa-se  grande presença delas na sociedade.

Para o coordenador geral da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia), Veriano Terto, a pesquisa é muito bem vinda, pois vem de acordo com o pensamento das organizações que trabalham com DSTs. “Nós sempre levantamos a idéia de que não há relação entre o carnaval e o aumento de casos”, explica. Entretanto, ele defende arduamente a campanha de prevenção durante o carnaval. “A campanha não é só eficaz do ponto de vista epidemiológico, mas também na perspectiva cultural. Para comunicar algo, é fundamental que haja ligação com a cultura de um povo”, explica.

Dessa forma, Terto avalia que outras campanhas temáticas e temporais como a do carnaval poderiam acontecer pelo país, seguindo a tradição dos diferentes grupos sociais brasileiros. “No Nordeste, por exemplo, deveríamos investir em campanhas durante as festas de São João”, diz.

Carnaval 2008

Segundo dados do Ministério da Saúde (MS), a importância das campanhas durante o carnaval é simbólica, pois a festa está diretamente associada ao sexo e diversão sem preocupações. Para a festa deste ano, o ministro José Gomes Temporão lançou, no último dia 27 de janeiro, a campanha de prevenção a Aids voltada para o público de mulheres jovens. Nas cidades do Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA) e Recife e Olinda, ambas em Pernambuco, serão distribuídas 100 mil bandanas e 100 mil tatuagens temporárias com a frase “Tenho atitude. Uso camisinha”, além de 3,5 milhões de folders e 700 mil cartazes com propagandas de proteção.

De acordo com o portal do MS, as mulheres jovens são o público-alvo deste ano, pois a AIDS afeta quase duas vezes mais as meninas que têm entre 13 e 19 anos, do que os homens na mesma faixa etária. “É fundamental lembrarmos que ainda há sim uma opressão de gênero muito forte na sociedade brasileira, especialmente nas classes mais baixas. Assim, se faz premente o trabalho com esse grupo particular”, diz Terto.

Porém, novamente, ele lembra de outros grupos importantes, trabalhados pela Abia. Entre as ações desenvolvidas pela instituição, destacam-se os projetos com jovens homossexuais, combate ao preconceito e ativismo para o acesso a medicamentos, na luta contra as patentes da indústria farmacêutica.

Como mostra a pesquisa de Arze, a questão das DSTs vai além da Aids e, cada vez mais, programas pelo sexo seguro são fundamentais. No mundo, cerca de 70% da população jovem do sexo feminino têm o papiloma vírus humano (HPV), principal causa do câncer de colo de útero. “Como é possível contrair HPV mesmo com a camisinha, é fundamental investirmos na educação sexual, trabalhando questões como a necessidade de parceiros fixos, consultas ginecológicas e auto-exame”, conclui a pesquisadora, lembrando que por mais que o sexo seja uma atividade muito gratificante, ela pode ser também perigosa.

Autor: Lúcio Vargas

Fonte: GAZETA DE MURIAÉ



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