Em 29/12/2017 às 11h21
Nacional jogou na elite do Mineiro por toda a década de 1970.
NAC revelou Paulo Goulart (goleiro, jogou no Fluminense) e Marco Aurélio (meio-campo da Ponte Preta e do Coritiba; ex-técnico de Cruzeiro e Palmeiras)
O Nacional Atlético Clube (NAC ou Nacional
de Muriaé, como é chamado na cidade) é a única agremiação de futebol local,
ao longo da história, com atividades profissionais. Durante toda a década de
1970 esteve na elite do Campeonato Mineiro. Por isso, a trajetória do Nacional
compõe o capítulo três (de um total de 5) da Série O Futebol de Muriaé.
Desde seu primeiro onze, o NAC já aceitava jogadores negros. A incorporação de negros e mulatos veio nos anos 1920, exatamente no mesmo período de Bangu, Vasco da Gama e São Cristóvão, as equipes (cariocas) tidas como exemplos clássicos de popularização do futebol no Brasil. Nesse período, o preconceito era marcante no país e o futebol, de início, um esporte das elites.
Foto 1 - Nacional em 1930: alguns
desses jogadores estavam no 1º jogo da história do clube em 1927
Fonte: AMM - Fundarte, 2017.
Muriaé hoje e o Futebol
Com localização na Zona da Mata Mineira, Muriaé é o polo de sua microrregião (composta por outros 19 municípios) com total de 300 mil habitantes. Hoje, Muriaé possui cerca de 110 mil moradores (IBGE, 2015), tendo nascido sob o nome de "São Paulo do Muriahé" (distrito-1841; vila-1855; e cidade em 1865), conforme a Flâmula do Muriaeense (1958, p. 8).
São Paulo é o padroeiro municipal e, provavelmente, também é a referência para as cores dos clubes mais antigos e perenes da cidade: Paulistano e Nacional. Em minhas pesquisas em jornais, arquivos, sites e in loco não encontrei elementos suficientes para afirmar acerca da origem das cores preta, branca e vermelha utilizadas por essas equipes, daí a suposição. Ademais, o nome Paulistano é bastante sugestivo, além de ter dado origem ao próprio Nacionalapós uma dissidência interna e pacífica em 1927. Lembro ainda, aos leitores, que as cores supracitadas são as mesmas da cidade e do Estado de São Paulo, embora, durante muito tempo, o Nacional tenha sido alvi-negro, incorporando o vermelho mais recentemente, da mesma forma que seu novo mascote, o leão.
O futebol muriaeense surgiu nos anos 1900 com agremiações que não perduraram, algo que só viria nos anos 1910 e 20, através da dupla Paulistano (1920) e Nacional (1927). O auge do futebol local se deu na década de 1970, e pode ser creditado ao período de profissionalismo e de 1ª divisão no Campeonato Mineiro pelo Nacional Atlético Clube (NAC), o Nacional de Muriaé, como é costumeiramente chamado.
Foto 2 - Nacional em 1978: uma das
formações do Nacional nos anos 70, a década de ouro do clube.
Contudo, a rivalidade com o Paulistano deixou marcas fortes nos torcedores da cidade, principalmente entre as décadas de 1930 e 70. O NAC, apesar de não mais disputar campeonatos municipais, ainda é o maior campeão da Liga Esportiva de Muriaé (LEM) com 9 títulos (1955, 59, 63, 64, 67, 68, 70, 81 e 98).
Foto 3 - Nacional na década de 1960:
época de mais títulos na LEM
A partir dos anos 1980, o futebol local passou por seu maior abismo: o Paulistano perdeu seu estádio no bairro da Barra, enquanto o Nacional decaiu e abandonou o profissionalismo. Contudo, os últimos anos têm sido diferentes e sinalizam para mudanças: o Paulistano está realocando seu estádio (2017), e o NAC está na Segunda Divisão do Mineiro com o time principal, e na Primeira Divisão com a base. São novos tempos para o futebol muriaeense.
Nesta parte III, veremos como um clube teve seu nome misturado ao da própria cidade, a ponto de ser conhecido como Nacional de Muriaé, além do orgulho de ser seu único time profissional ao longo da história.
Nasceu do maior adversário local
De acordo com o 1º presidente do Nacional, João Felisberto, o clube "se iniciou à sombra de uma das árvores de nosso principal jardim. Foram movimentadores dessa idéia os srs. Oton Bandeira de Melo, José Vidon Sobrinho, Aníbal Freitas, Ciro Bandeira de Melo e Aparício Felisberto", publicou Juarez Távora da Silva (1958, p. 68). Todos eles compuseram a 1ª diretoria da agremiação ao nascer.
O Nacional Atlético Clube (NAC) surgiu de uma dissidência pacífica do Paulistano (GAZETA DE MURIAÉ, 3 ago. 1952). Segundo José Pires, dessa dissidência em 1927 "não houve nenhum desequilíbrio pessoal entre os elementos que vieram compor o Nacional e os que ficaram no Paulistano. Houve naquela época o que nos tem faltado hoje. Compreensão e nada mais. O Paulistano, em vez de cortar suas ligações com os dissidentes, estimulou-os" (NAC, sem data).Assim, em 25 de dezembro de 1927 ficava consolidada a criação de um novo clube muriaeense.
Seus diretores pleitearam um terreno para a construção de um campo de futebol. "O terreno, na Armação, foi cedido pelo Cel. Edmundo Germano, como presidente da Câmara [...]." As obras ficaram a cargo de Sebastião Boi. "A 25 de dezembro dava-se a inauguração, em match contra o Paulistano", contou a Gazeta de Muriaé em 1952 (3 ago., p. 6).
Foto 4 - Arquibancadas do primeiro
estádio do NAC - década de 1930.
Paulistano: Zé Grecha, Puri, Manganês, Totônio, Juquinha Costeleta,
Bicanca, Didi, Zequinha, Rogério, Costa e Alemão.
Após a vitória do Nacional, um novo embate foi marcado. A revanche marcaria o início da maior rivalidade futebolística de Muriaé.
A 1ª partida fora de Muriaé ocorreu em Ubá, após o NAC receber o onze oponente em seus domínios. "Com o quadro reforçado de novos elementos, vieram os jogos com Sapé de Ubá, onde nosso conterrâneo Trajano Viana organizára [sic] um clube. Foram duas vitórias, dois grandes acontecimentos", relatou a Gazeta de Muriaé (10 ago. 1952, p. 1).
Foto 5 - Nacional* em dia de jogo
contra o Americano de Campos - 1930.
Fonte: Gusman, 1980, p. 102.
* Identificados na foto: Canário (1º), Jairo (3º), Alcides (6º) e Pergentino (7º), de pé; Guardiano (goleiro) e Paulista (ajoelhado).
A incorporação dos negros: exemplo pelo futebol
A foto ajuda ainda a elucidar a incorporação de jogadores negros e mulatos ao elenco do Nacional, questão que permeou muito preconceito nos primórdios do futebol nacional. Levando-se em conta o exemplo do Rio de Janeiro, onde o escrete vascaíno de 1923 foi um marco na aceitação de pobres e negros e, um pouco antes, também o Bangu, além do São Cristóvão, pode-se considerar que o NAC protagonizou um grande feito sociocultural.
Um jogador foi a pé de Cataguases até Muriaé para atuar pelo Nacional!
As agremiações esportivas são marcadas pelas histórias de vínculos que até viram verdadeiras lendas no meio futebolista.
Uma dessas histórias vem do Nacional, e envolve Mário Venâncio, o "Beleléu", considerado entre os melhores jogadores do clube de todos os tempos. Para jogar pelo Nacional, o atleta foi a pé de Cataguases até Muriaé (NAC, sem data), cuja distância é de cerca de 70 km. Beleléu viveu o cotidiano do clube por mais de 60 anos, algo que só podia ser interrompido mesmo por sua morte.
Igualmente dedicado ao Nacional foi "Corisco", o Vicente Brasil, vindo do Tombense. Também aclamado como um dos grandes futebolistas da equipe na história, esteve presente no NAC por 57 anos, do qual recebeu homenagem em 14 set. 2014 (faleceu em 4 de outubro, aos 81 anos). Foi treinador. Na base, orientou atletas como Paulo Goulart (goleiro do Fluminense de 1976 a 83) e Marco Aurélio, treinador (Cruzeiro e Palmeiras) e ex-jogador (Ponte Preta e Coritiba).
Foto 6 - Grandes nomes do Nacional
nas décadas de 1950 e 60*.
Fonte: AMM - Fundarte, 2017.
* Joãozinho, Cachaça, Dominguinhos, Mazola e Corisco.
Foto 7 - Corisco no novo Soares de
Azevedo durante homenagem do NAC - 14 set. 2014.
Fonte: Alves, 2014.
Fotos 8 e 9 - Marco Aurélio* e Paulo Goulart**: ilustres muriaeenses oriundos do Nacional.
Fonte: Revista Placar, 9 ago. 1985 (Capa).
* Marco Aurélio, no Maracanã, com a taça do Campeonato Brasileiro de 1985, quando defendia o Coritiba.
Fonte: arquivos do Globo Esporte - 1980.
** Paulo Goulart no Fluminense, após pegar 3 pênaltis contra o Vasco na decisão da Taça Guanabara de 80. Foi campeão estadual neste ano. Sua entrevista ao FCG está disponível aqui no blog (http://geoculturadofutebol.blogspot.com.br/2017/10/paulo-goulart-campeao-carioca-de-80.html) e também pelo Youtube (https://www.youtube.com/watch?v=T0Of5WyJW4I&t=12s).
O presidente que garantiu o estádio do clube mesmo depois de morrer
Outro caso instigante a ser revelado da história nacionalina vem de um ex-presidente, Antônio Theodoro Soares de Azevedo. Mesmo após sua morte, "revelou ele sua preocupação pela vida do Nacional [...] [em], deixando entre as disposições de última vontade a cláusula que obrigava o seu testamenteiro a regularizar a compra do campo que havia feito e doado ao Clube a cuja frente se encontrava" (GAZETA DE MURIAÉ, 1952).
Como é possível vaticinar, o estádio do clube receberia o nome de "Soares de Azevedo". Nada mais justo e "natural". Essa honra de emprestar o nome, porém, esteve à prova diante da construção do novo estádio nos anos 2000, apontou Jacy de Oliveira Filho (2017) em entrevista a mim concedida. Cogitou-se o nome do ex-vice-Presidente da República, José de Alencar, ilustre fã do NAC. Apesar das décadas que separam as duas etapas, o nome do antigo e heróico presidente do clube (por quê não?) foi confirmado.
Foi no terreno doado por Antônio Theodoro Soares de Azevedo que o Nacional construiu seu primeiro estádio, na antiga Avenida Constantino Pinto (hoje, Maestro Sansão), nas proximidades da atual rodoviária municipal. Mais tarde, no fim da década de 1960, o imóvel foi objeto de desapropriação pelo Poder Público, cuja contrapartida se deu com a construção do estádio situado na Avenida Doutor Passos, inaugurado em 1970 e que funcionou até 2007, afirma Oliveira Filho (2017), para quem Soares de Azevedo é o maior nome da história do NAC.
Para o jogo inaugural, em 1970, o convidado veio de Barbacena: era o Olympic, tradicional clube (criado em 1915), e, a exemplo do Nacional, também com passagens pelo profissionalismo e participações no Campeonato Mineiro. Em julho de 1976, o NAC recebeu o Valeriodoce (às 20h) para um amistoso de inauguração da nova iluminação, um marco para jogos noturnos no Soares de Azevedo (GAZETA DE MURIAÉ, 24 jul. 1976).
Foto 10 - Jogo para para inauguração
da iluminação do Soares de Azevedo é notícia em 1976.
Fonte: Gazeta de Muriaé, 24 jul. 1976, p. 8.
Torcedores e ex-dirigentes divididos: o novo Soares de Azevedo e o "novo" NAC
O antigo Estádio Soares de Azevedo, de dimensões pequenas (um "alçapão" na linguagem do futebol), vinha sendo questionado pela Federação Mineira (FMF) desde 2003, no qual o NACmandava seus jogos pela "Segundona". Nesse sentido, o clube recebeu o ultimato da FMF em 2005: a partir de então seu estádio seria vetado para o Campeonato Mineiro.
Com isso, a venda do antigo terreno da Avenida Dr. Passos (de cerca de 6.900 m²) passou a ser uma realidade para o Nacional, bem como os que adotavam e os que discordavam da ideia. Dentre os últimos, estava o ex-presidente da "era de ouro", Antônio Fernandes.
Dois grupos de supermercados pleitearam a compra, saindo vencedor o que fez a 1ª oferta (R$ 4.701.928,00), a qual foi coberta, mas já com o compromisso de compra e venda firmado (algo que ocorreu em 13 set. 2007), o 1º grupo foi confirmado como comprador. O imbróglio, porém, perdurou judicialmente. As obras no terreno começaram quase um ano depois.
Fotos 11, 12, 13 e 14 - Supermercado
instalado na área do Antigo Estádio Soares de Azevedo (e mais seus trechos
remanescentes: lateral e frente) - 2017.
Fonte: FCG / Helcio Ribeiro Campos, 2017.
A despeito dos entraves, o novo Soares de Oliveira foi erguido a partir do dinheiro do antigo estádio, bem como os CTs (Centros de Treinamento), sala de troféus, loja, sala da presidência, departamento médico, vestiários e academia. O terreno abrange uma área aproximada de 60 mil m², comprada por R$ 400.000,00.
Fotos 15 a 19 – Novo Estádio Soares de Azevedo e suas dependências - 2017.
Fonte: FCG / Helcio Ribeiro Campos, 2017.
A capacidade do estádio é de cerca de 13 mil espectadores e o custo total da obra, incluindo tudo, foi da ordem de 10 milhões de reais, aponta Jacy Filho (2017).
O novo estádio recebeu a final do Campeonato Brasileiro da Série D entre Tombense e Brasil de Pelotas, vencido pela equipe de Tombos, da Zona da Mata, que dista cerca de 60 km de Muriaé.
O novo Soares de Azevedo já foi utilizado também em outros torneios e por clubes diversos.
A construção do novo estádio não se restringe ao debate futebolístico, pois é também um caso de especulação imobiliária. Muriaé é o polo de sua microrregião e já ultrapassou os 100 mil habitantes. O bairro da Armação – nome que está desaparecendo na cidade – já é há muito ocupado e, portanto, guarda efetivos interesses mercantis. Por isso mesmo, o novo Soares de Azevedo foi alocado em área de ocupação mais recente, às margens da BR-356 (saída para Itaperuna, núcleo urbano do norte fluminense) mas, mesmo assim, em local de acesso rápido para os que residem nas tradicionais e mais antigas zonas de ocupação urbana de Muriaé.
Quem pensa na chegada ao campo e na capacidade de público aplaude um estádio de localização mais retirada, enquanto os que prezam as relações de sociabilidade e de vínculo com o clube de futebol, lamentam a realocação distante das bases comunitárias que ergueram a história da agremiação. Nessa perspectiva é que podemos compreender a fala do ex-presidente Antônio Fernandes (2017): " – O povo fica na dúvida..." e o clube "não está com boas características". E arremata: "– Deixei o Nacional com patrimônio respeitável e sem dívida nenhuma". Fernandes (2017) ressalta ainda o tanto que investiu do próprio dinheiro no clube (ele é um tradicional comerciante na cidade).
Pairam dúvidas e elas têm um foco: a parceria firmada com o Nacional Esporte Clube (NEC) em 2013, clube que havia passado 1 ano em Coronel Fabriciano e 3 em Nova Serrana. Estava mandando seus jogos em Patos de Minas quando assinou um contrato para utilizar o novo Soares de Azevedo. A torcida não queria um "Nacional de mentira". O NEC chegou a usar as cores do NAC, mas não adiantou: perdeu em campo (foi rebaixado) e fora de campo também (sem identificação com os torcedores).
Diante desse panorama, o NAC não renovou a parceria e assumiu o futebol profissional, voltando a disputar o Mineiro na 3ª divisão. Em 2014, após vencer o Valeriodoce, classificou-se para o Módulo II, onde ainda compete.
A situação retratada acima não vale apenas para o caso do Nacional de Muriaé, mas sim para todas as associações esportivas que vivenciaram algo similar. Contudo, essa discussão sobre a capacidade de uma agremiação de futebol representar uma cidade não é nova. Foi o que flagramos na matéria "NAC, mais um orgulho", da Gazeta de Muriaé (12 mai. 1979, p. 8): em pleno auge nacionalino, observava-se que, a despeito da verificação da projeção da cidade pela via do clube, ainda assim cobrava-se pela efetiva participação dos muriaeenses e dos seus aficionados.
Na atualidade, de acordo com Eduardo Alves e José Geraldo Pimentel (2017) – diretor da base e presidente –, o Nacional busca patrocinadores, além da venda de cadeiras cativas e de placas de propaganda no novo estádio para a manutenção (difícil) do clube. O maior aporte de capitais viria com a chegada à primeira divisão e as consequentes cotas da TV que seriam recebidas, espectam os dirigentes.
Foto 20 – Dirigentes do Nacional: José Geraldo Pimentel (presidente) e Eduardo Alves (diretor da base) - 2017.
Fonte: FCG / Helcio Ribeiro Campos, 2017.
Forte em meados do século XX e Primeira Divisão do Mineiro nos anos 1970: o auge
O quadro do Nacional que pode ser citado como propulsor da etapa de auge dos anos 1970 está no fim da década de 1950, principalmente entre 1957 e 59. A base era: Veludinho, Careca, Oliveira, Quinquim e Jaú; Quissamã (ex-Botafogo) e Tuta (ex-Vasco, da era do Expresso da Vitória); Corisco, Haroldo Cocó, Nédio e Rebojo. O time ainda não era profissional. Já nos anos 60, outro vascaíno chegaria para os quadros do NAC, Domingos (Dominguinhos), campeão carioca de 1958.
Pela ascensão que promoveram, alguns desses jogadores foram elencados dentre os mais importantes da trajetória do clube por estudiosos do futebol local, como Jacy de Oliveira Filho (2017), que também é torcedor do NAC: "– A minha vida é o Nacional. O único time de Minas Gerais que eu torci foi o Nacional", revelou-me em durante entrevista em 2017 [Nota 1]. Aparício Felisberto, Edmundo Germano, Mário Costa, Pergentino Ferreira, Araçagy, Saulo Magalhães, José Amílcar, Willian Feres, Wilson Amaral e Argemiro Moreira são outros nomes de peso na história do NAC.
Foto 21 – Jacy de Oliveira Filho e sua gravata exclusiva do NAC: mestre de cerimônia da homenagem do clube a Corisco – 2014.
Fonte: Alves, 2014.
Daí até 20 anos mais tarde, o Nacional teria seu período áureo. Ganharia o acesso à primeira divisão do Campeonato Mineiro em 1969, passando a disputá-lo ininterruptamente por toda a década de 1970.
A chegada do NAC à elite do Campeonato Mineiro ocorreu através de uma disputa de 3 jogos contra o Athletic Club de São João del Rei (SJDR): 3 a 1 em casa (30 nov. 69), e derrota por 3 a 2 em SJDR (7 dez.). Com isso, a partida decisiva ficou como a preliminar de Seleção Mineira x Seleção do Distrito Federal (em 14 dez.), no Mineirão, com nova vitória do Nacional (2 a 1). Começaria a partir daí a melhor fase profissional do clube.
Tal período, ficou marcado pela presidência de Antônio Fernandes (iniciada em 1967) que, na análise de Jacy Filho (2017), só perde em importância para Soares de Oliveira. Também Argemiro Moreira se destacou, mas como treinador e supervisor.
Foto 22 – Antônio Fernandes em 2017 (aos 91 anos): dirigente do Nacional nos anos 70, a melhor era profissional do clube*.
Fonte: Silvan Alves.
* Em sua loja comercial, no Centro de Muriaé, há fotos do NAC e ainda os volantes da loteria esportiva (da década de 1970) com o "Nacional de Muriaé", algo que claramente traz orgulho e felicidade a Antônio Fernandes.
Nessa "fase de ouro", o NAC teve destaque no Campeonato Mineiro: 4º lugar em 1979 e 5º em 1977, quando também foi o melhor time do interior. Em 1977 foi Campeão do Torneio Incentivona preliminar da decisão do Brasileirão entre Atlético e São Paulo, no Mineirão.
Esses foram tempos inesquecíveis para torcedores e muriaeenses, assim como foi para mim, quando residi na cidade.
Fotos 23 e 24 - Nacional teve destaque no futebol mineiro profissional na década de 1970.
Fonte: Gazeta de Muriaé - 28 abr. e 29 jun. 1979, p. 8 e p. 8, respectivamente.
O fim do profissionalismo veio nos anos 1980, mas foi retomado ainda na década de 80 e prosseguiu nos anos 1990 e 2000 (parou entre 2005 e 2014). Em 1986, por exemplo, o Nacionaldisputava a terceira divisão mineira.
Fotos 25 e 26 – NAC em seu ocaso na elite do Campeonato Mineiro (Tupi x NAC) – Juiz de Fora, abr. 1983.
Fonte: Nicoline, 2009, p. 50.
Foto 27 - Nacional na retomada do profissionalismo em 1986.
Fonte: Gazeta de Muriaé, 19 jul. 1986, p. 11.
O clube retornou à primeira divisão na base, mas ainda está na "Segundona" com o elenco principal, embora esteja repetidamente entre os classificados para a 2ª fase, a que define o acesso, passando perto em algumas ocasiões, como em 1991 (diante da URT), com Corisco como técnico.
Ao visitar o NAC em 2017 e falar com seus dirigentes – presidente José Geraldo Pimentel e Eduardo Alves, diretor das categorias de base – percebi que apostam na formação dos atletas como meio de fortalecimento da instituição. Alves (2017) relatou que há uma divulgação para as seletivas ("peneiras"), que são divididas em duas etapas: a 1ª para jogadores da cidade e região, e uma 2ª etapa para os atletas oriundos das localidades mais distantes. O diretor admite a dificuldade para a consecução de atletas de nível, mas exalta a formação cidadã que recebem.
À época, os alojamentos estavam em obra, os quais, segundo Eduardo Alves (2017), atenderão aos jogadores da 2ª etapa. Logo, aqueles que residem mais próximos terão que se deslocar para participarem das atividades no clube. No início de 2017, disse Alves (2017) haver 8 garotos da base em treinamento na categoria profissional.
Foto 28 – Paulo Goulart e Isidoro*: importantes ex-jogadores do NAC e do Fluminense.
Fonte: Alves, 2014.
* Os campeões Paulo Goulart (Carioca de 1980, Flu) e Isidoro (Libertadores de 76, Cruzeiro) concederam entrevistas ao FCG.
A matéria sobre Isidoro está disponível aqui no blog (http://geoculturadofutebol.blogspot.com.br/2017/07/entrevista-com-isidoro-campeao-da.html), incluindo vídeo, que também está no Youtube (https://www.youtube.com/watch?v=5c2nIYviSr8).
O time da base do Nacional (sub-17) conseguiu o acesso à primeira divisão do Campeonato Mineiro em 2016. Com isso, abrem-se as esperanças quanto ao profissionalismo no clube e para muitos dos muriaeenses.
Não é "Nacional de Muriaé", mas é assim chamado: a base socioterritorial
Antes desse texto para o FCG, já havia abordado a ligação do NAC com a cidade de Muriaé em meu livro Identidade, de 2016, pois as instituições de futebol têm vínculos territoriais com seus bairros e cidades, às vezes ganhando projeção estadual e em todo o país ou exterior até, como no caso da Chapecoense ou mesmo do Nacional, denominado como "Nacional de Muriaé" pela Loteria Esportiva, como é de fato conhecido, algo que infla os egos (com razão!) de seu presidente à época, Antônio Fernandes (2017).
Foto 29 - Nacional representando a cidade na Loteria Esportiva: era o "Nacional de Muriaé".
Fonte: acervo pessoal de Antônio Fernandes, 2017.
Essa ligação time-cidade pode ser expressada por meio de torcedores que se tornaram símbolos do clube, como Irineu Felisberto, "Ranheta", Nilson Gouvêa, Dona Rosinha Cerqueira, professora Cléria Ticon Carneiro e Dinorá Felisberto (OLIVEIRA FILHO, 2017).
"A base territorial é relativa tanto aos clubes amadores quanto aos profissionais, até porque muitos desses últimos surgiram antes da introdução do profissionalismo no futebol (em 1933)". Por isso é justo pensar: "Onde encontrar a torcida dos times [...] senão no bairro [ou na cidade] onde foi fundado ou tem sede/estádio?" Essa mesma significação também já fez parte do cotidiano dos grandes clubes, cujo crescimento esboroou seu perfil intimista e alterou a identidade de seus primeiros anos: time da elite, de operários, de estudantes, de imigrantes etc. Enfim, "popularização e impessoalidade passaram progressivamente a configurar o futebol-espetáculo" (CAMPOS, 2016, p. 26).
Foto 30 - Exemplo de como o NAC (e outros clubes do interior) enfrentam obstáculos para criarem nexos com suas cidades e torcedores.
Fonte: Gazeta de Muriaé, 22 jan. 1977, p. 8.
Você procura um outro perfil clubístico? Um perfil que destoe do que presenciamos habitualmente? Procure, então, por um clube que incorporou o nome de sua cidade e, logo, de sua gente, ao seu próprio nome. Procure por "Nacional de Muriaé"!
Foto 31 - Nacional como evocação da importância de Muriaé.
Fonte: Gazeta de Muriaé, 12 mai. 1979, p. 8.
Essa é a homenagem do FCG aos 90 anos do Nacional neste
dezembro de 2017.
Nota
[1] Jacy de Oliveira Filho assinou o texto lançado pelo site do NAC,
o qual eu já havia consultado em 2014.
A Gazeta de Muriaé parabeniza e agreadece a Teodorico Torres e Waltecy Garcia que contribuiram sobremaneira para ajudar a contar esta história em suas páginas. Agrqdecemos também ao Professor Helcio Ribeiro Campos pelo belíssimo trabalho realizado em prol da memória do Nacional Atlético Clube.
Bibliografia
ALVES, Eduardo. Entrevista. Muriaé: jan. 2017, 7'53''. Entrevistador: Helcio Ribeiro Campos.
ALVES, Silvan. Um craque de alma lavada: Vicente Brasil, o "Corisco", recebe homenagem oficial do Nacional Atlético Clube. 2014. Disponível em:http://silvanalves.com.br/site/2014/09/um-craque-de-alma-lavada-vicente-brasil-o-corisco-recebe-homenagem-oficial-do-nacional-atletico-clube/ Acesso em: 10 ago. 2017.
ARQUIVO MUNICIPAL DE MURIAÉ – AMM. História de Muriaé; Fotos antigas de Muriaé. Muriaé: Fundarte, 2017.
CAMPOS, Helcio Ribeiro. Identidade: reconhecendo alguns significados e territórios. Juiz de Fora: Editar, 2016, 88 p.
FERNANDES, Antônio. Entrevista. Muriaé: jan. 2017, 11'29''. Entrevistador: Helcio Ribeiro Campos.
FLÂMULA DO MURIAEENSE. Edição comemorativa do Dia do Muriaeense. Muriaé: Gráfica Moderna, Ano I, n. 1, 6 set. 1958, 96 p.
GAZETA DE MURIAÉ. Edições de 3 e 10 ago. 1952; 24 jul. 1976; 22 jan. 1977; 12 mai., 28 abr. e 29 jun. 1979; 19 jul. 1986. Gazeta de Muriaé. Muriaé, 1952, 1976 e 1979.