Em 10/10/2017 às 17h24
Fundação Hemominas trabalha com o que há de melhor em equipamentos para cada etapa do processo.
Tudo começa com o
gesto voluntário, espontâneo e solidário de doar sangue. Mas, para chegar a
quem dele precisa, o sangue doado passa por vários processos e procedimentos,
gerando o máximo de aplicações para beneficiar ainda mais pessoas.
Logo após o término da doação, a bolsa de sangue total (que contém todos os componentes
sanguíneos) coletada em uma doação de sangue pode dar origem a hemocomponentes
e hemoderivados. Quem explica melhor o que acontece é o farmacêutico
habilitado em análises clínicas, Alessandro Ferreira, que trabalha
na Fundação
Hemominas há 12 anos e é o responsável pela equipe de
fracionamento do Hemocentro de Belo Horizonte (HBH).
"Todo sangue doado precisa passar por uma série de etapas, até que esteja
separado nos produtos que chamamos de hemocomponentes. Existem muitos processos
que são aplicados na bolsa de sangue até que obtenhamos o produto final",
relata.
Crédito: Adair Gomez
Hemocomponentes são os produtos gerados em serviços de hemoterapia, por meio de
técnicas de centrifugação que permitem o fracionamento da bolsa de sangue total
em concentrado de hemácias, concentrado de plaquetas, plasma fresco congelado e
crioprecipitado. Estes hemocomponentes são utilizados para transfusão
sanguínea, sendo que cada bolsa proveniente de uma doação pode beneficiar
várias pessoas. Os hemoderivados são produzidos em escala industrial, via
processamento do plasma, que é submetido a um tipo de fracionamento que permite
extrair proteínas específicas como, por exemplo, os fatores da coagulação
sanguínea e albumina.
Os hemocomponentes são os seguintes:
Concentrado de hemácias (CH) - A parte vermelha do sangue que
contém as hemácias (células sanguíneas responsáveis pelo transporte do oxigênio
para todo o corpo humano). Utilizado em anemias agudas, como as causadas por
hemorragias que ocorrem, por exemplo, em acidentes ou cirurgias com grande
perda de sangue, sua validade é de 35 a 42 dias (dependendo da solução de
conservação), após a coleta de sangue.
"Na
Hemominas, fornecemos o concentrado de hemácias; existem vários
subtipos desse concentrado, que serve para tratar uma anemia aguda ou uma
anemia que traz repercussão para o paciente, como cansaço, dor nas pernas,
sonolência, entre outros. No geral, é utilizado na anemia sintomática, mas
podem ocorrer casos em que o paciente sangrou ou está fazendo tratamento com
quimioterapia ou radioterapia e precisa repor hemácias. A maioria dos pacientes
que acompanhamos aqui no ambulatório são portadores de anemia falciforme e,
normalmente, têm que fazer transfusões, não exclusivamente para aumentar o
nível da hemoglobina, mas para fazer uma troca, retirando a hemoglobina doente
e repondo outras que não tenham alterações. Esse processo é chamado de
exsanguíneotransfusão, pelo qual se faz uma sangria e se transfunde o sangue do
doador, livre de hemoglobina doente"
Ana Luiza Roscoe
Clínica médica e hematologista, atualmente responsável pela equipe do
ambulatório do Hemocentro de Belo Horizonte
Concentrado de plaquetas (CP) - Componente claro que
contém as plaquetas, responsáveis por um dos mecanismos de coagulação que
impedem a continuidade do sangramento, formando um tampão nos vasos sanguíneos.
É utilizado em caso de alteração da função ou diminuição do número de
plaquetas, como os que ocorrem em leucemias e quimioterapia. Sua validade é de
cinco dias após a coleta de sangue.
"Além desses fatores em que normalmente o concentrado de plaquetas é utilizado,
também ocorrem casos em que o paciente com o número de plaquetas baixo precisa
de uma cirurgia: eles vêm aqui no ambulatório, recebem o concentrado e podem
fazer a cirurgia posteriormente", explica Ana Luiza.
Plasma fresco congelado (PFC) - É a parte líquida do sangue,
contendo água, proteínas e íons, e fatores responsáveis pelos outros mecanismos
de coagulação, além da plaqueta. Utilizado em sangramento e deficiência de
vários fatores de coagulação, como as que ocorrem em grandes queimados e
portadores de hemofilia B. Dura um ano após a coleta de sangue.
"Também utilizado para alguns preparos cirúrgicos, normalmente em pacientes em
que o fígado não produz fator de coagulação. É utilizado, ainda, em pacientes
com deficiência de algum fator de coagulação que não está disponível
comercialmente", esclarece a clínica médica e hematologista.
Crioprecipitado (CRIO) - É um precipitado originado do
descongelamento do PFC em temperatura de 4 °C. Rico em fator VIII, fator XIII e
fibrinogênio e utilizado em pacientes com deficiência de fatores de coagulação
(fibrinogênio e outros). Dura um ano após a coleta de sangue.
"Atualmente é utilizado em situações muito específicas, como repor fibrinogênio
em pacientes com coagulação intravascular disseminada ou quando há sangramento
em pacientes portadores de deficiência de fibrinogênio, fator XIII ou fator de
von Willebrand, e os fatores de origem industrial estão indisponíveis",
afirma Ana Luiza.
Crédito: Adair Gomez
Gota a gota
Quando a bolsa é coletada e todos os hemocomponentes separados, o sangue é
rotulado de forma a permitir sua rastreabilidade (possibilidade de identificar
a origem do sangue doado, em caso de reações adversas no receptor). O sigilo do
doador é sempre preservado, conforme determina a legislação brasileira. São
realizados exames para tipificação do sangue e identificação de doenças
transmissíveis. Somente após a liberação dos testes laboratoriais, os
hemocomponentes, devidamente estocados, são distribuídos aos hospitais e
clínicas conveniados.
Simultaneamente à realização dos testes laboratoriais, o sangue passa pela
principal etapa: a centrifugação. Ela consiste em inserir o sangue num
equipamento que vai girar cerca de 2.200 a 3.500 rotações por minuto,
dependendo do tipo de bolsa e outros fatores. Durante o processo de rotação,
ocorre o que é chamado de estratificação do sangue, ou seja, ele será separado
em camadas que, por sua vez, serão novamente separadas em outro equipamento (os
componentes obtidos pela centrifugação), em bolsas diferentes, e obtemos os
hemocomponentes.
Aí, os hemocomponentes são armazenados. Antes de serem liberados para
transfusão, os resultados de exames são checados (para quem não se lembra, os
exames são feitos com o sangue dos tubinhos coletado na hora da doação). Com os
exames conferidos e os hemocomponentes aptos a serem transfundidos, é feita a
rotulagem das bolsas e sua disponibilização para estocagem e envio aos
hospitais.
Para serem estocados e conservados, os hemocomponentes possuem situações
diferentes e específicas, como relata o responsável pela equipe de
fracionamento do Hemocentro de Belo Horizonte (HBH), Alessandro
Ferreira. "Cada produto tem uma condição específica para o armazenamento,
principalmente no que diz respeito à temperatura", observa.
A plaqueta, por exemplo, além de ficar em um local com temperatura controlada,
também exige um equipamento especial - os agitadores de plaquetas - que fazem
movimentos constantes. Fora desse equipamento, quando se precisa transportá-la,
ela pode ser conservada por até 24 horas - nunca pode passar disso. Já as
hemácias e o plasma são estocados em freezers ou refrigeradores que mantenham a
temperatura controlada.
"A Fundação Hemominas, especificamente o Hemocentro de Belo Horizonte, possui
um portfólio de equipamentos e técnicos com que pouquíssimos lugares no país
podem contar. Nós trabalhamos com equipamentos modernos, o que há de melhor
para qualquer etapa do nosso processo", dentro da realidade do país", destaca o
farmacêutico.
Para que os componentes sejam transportados com o cuidado e segurança
necessários, é primordial que a temperatura seja mantida e conservada: hemácias
na faixa de 1 a 10 graus, plaquetas entre 20 e 24, o plasma em temperaturas
abaixo de 20 graus negativos ou mais frio. Para isso, tudo precisa ser
controlado rigorosamente, desde a quantidade de bolsas, material resfriante,
bem como a caixa onde os hemocomponentes serão acomodados, garantindo que tudo
ocorra dentro das normas e condições determinadas.
Segurança
Além do tratamento prestado a uma média de oito mil pacientes de
hemoglobinopatias e coagulopatias no estado, a Fundação Hemominas é responsável
por uma cobertura hemoterápica superior a 97% (procedimentos transfusionais em
todo o estado), com proposta de alcançar 100% dos procedimentos vinculados ao
Sistema Único de Saúde (SUS).
Com a missão de produzir saúde com qualidade e segurança transfusional, ela
aponta resultados como a ampliação do atendimento ao doador (em 2016, atendeu a
cerca de 360 mil candidatos à doação de sangue), e produziu em torno de 765 mil
hemocomponentes. Sem contar os mais de cinco milhões de testes laboratoriais,
incluindo testes sorológicos, moleculares e imuno-hematológicos realizados nas
Centrais de Laboratórios da Administração Central para todas as UFHs, além de
mais de 93 mil procedimentos e consultas. Também o laboratório de
Histocompatibilidade (HLA) tem se expandido rapidamente desde sua implantação,
em 2012, já sendo responsável por 50% dos testes realizados no estado.