Gazeta de Muriaé
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Em 26/02/2008 às 09h10

O Livro de Lavínia e a poesia de Luiz Gonzaga

  Dezoito anos após conceber “Lavínia”, o professor universitário e poeta Luiz Gonzaga da Silva apresentou-a à sociedade muriaeense, durante um “Café Literário”, ocorrido na noite da última sexta-feira (15), nas dependências da Escola São Paulo.

  “O Livro de Lavínia”, como o próprio Gonzaga explica no início da obra, começou a ser escrito em 1988 - uma forma de remissão pessoal por não ter dado o nome de sua “musa” à filha nascida onze anos antes: “Só me lembro de que, quando Juliana, minha filha, nasceu, eu pensava em lhe dar o nome de Lavínia. Não me recordo bem por que, acabei mudando de opinião e de nome escolhido. Como fui obrigado a aceitar essa mudança, jurei a mim mesmo que eu iria criar uma Lavínia especial”.

  Com apresentação do Prof. Dr. Sérgio Roberto Costa e prefácios das professoras da Faculdade Santa Marcelina - Amitza Torres Vieira (Doutora em Lingüística), e Emília Castro Montesano Goulart (Especialista em Língua e Literatura de Língua Inglesa)-, o livro é uma reunião de composições inspiradas em poetas do século XVIII, mais precisamente, Tomás Antônio Gonzaga, com sua “Marília de Dirceu”, e Manuel Inácio da Silva Alvarenga, com “Glaura”.

  Esta é a terceira obra do mineiro de Guarani, que homenageou sua terra natal nas lembranças poéticas de “Idas  Vindas” e “Idas e Vindas II: um olhar sobre a cidade amada”. E embora “O Livro de Lavínia” siga por um caminho diferente, Luiz Gonzaga também encontrou uma forma de retribuir a acolhida de Muriaé, cidade que, há 44 anos, escolheu para morar: irá destinar 50% da venda dos livros à Creche Alfredo Couto, do Bairro Planalto, responsável pelo atendimento de 67 crianças. É por méritos como este e por muitos outros que o professor foi condecorado, em 1977, com o título de cidadão muriaeense.

  Ao aventurar-se no lirismo de “Lavínia”, Gonzaga, como bem definiu a Mestre de Cerimônias da noite do lançamento, professora Ângela Bizzo, conseguiu resgatar, de forma elegante e singela, a estética neoclássica das liras, rondós e madrigais. “A partir delas, o autor compõe pequenas canções, nas quais explora a musicalidade das palavras, bem como enquadra a forma poética tradicional em alguns exercícios de poesia verbo-voco-visual, isto é, com aproveitamento do espaço da folha do livro, em nível significante também”, ressaltou Bizzo.

  Tal aproveitamento pode ser comprovado na disposição geométrica das palavras na página, um resgate da poesia concreta do século XX, especialmente dos anos 50 e 60, de cuja fonte o poeta, Especialista em literatura brasileira e Mestre em Letras, sorveu inspiração para oferecer ao leitor uma belíssima simbiose entre o Concretismo e o Arcadismo.

  É assim que ele mergulha de cabeça nesta história em busca de sua Lavínia e traz à tona a imagem de uma musa “linda, enluarando o céu, cheia de prata” – uma visão do amor impossível e distante, que recebe a forma de mulher no desenho de Benedito Soares, cujo trabalho ilustra a capa do livro.

  Ao expor seus “divertimentos poéticos sem maiores conseqüências”, Luiz Gonzaga da Silva convida-nos a penetrar em um mundo onde o lirismo coloca-se à flor da pele, de forma direta, sem ornatos nem aparatos, através de uma poesia leve, tranqüila e quase áurea. Uma poesia própria do autor, mas que tem conseqüências sim: o encantamento profundo, que também nos deixa em transe lavínico.

Autor: Andréa Oliveira

Fonte: Gazeta de Muriaé



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