Em 21/12/2007 às 07h54
Muitos dos que irão ler este texto podem duvidar do que está sendo relatado e não se deve culpá-los por isto; afinal, a evolução que a humanidade conseguiu atingir nos últimos 30 anos foi fantástica.
Quem poderia supor que por volta de 1960, quando a TV engatinhava na região de Muriaé e no Brasil inteiro para se manter o sinal que vinha do Rio de Janeiro da única emissora, a extinta TV Tupi, era necessário um motor a diesel que gerava energia elétrica para manter uma parafernália de válvulas que se assemelhava a um guarda-roupas funcionando, para retransmitir o sinal para que Muriaé tivesse, imagine, duas horas de TV durante todo o dia. Acrescente a isto a localização da torre de retransmissão, na Serra de Pirapanema, onde hoje alçam vôo os praticantes de Parapente. Quando chovia o local ficava praticamente intransitável tanto, que para se chegar até lá era utilizado um Jeep. Naquela época o trajeto com tempo bom era uma verdadeira "viagem", pois durava cerca de 2:30 á 3:00 horas, imaginemos então com chuva.
O início da televisão em Muriaé deve-se, certamente, a um grupo de pessoas abnegadas e interessadas no progresso. Entre elas podem ser nomear Hidemburgo Barroso, Antenor Puchetti Filho, Aloysio Figueira de Aquino, Telêmaco Pompei e Hélio Araújo, seguido, posteriormente por Darcy Rodrigues, Danilo Guarino, Waltecy Garcia, Manoel Loureiro, Carlos Fernando Costa, Messias Vardiero, dentre outros.
Na verdade tudo começou com o interesse do Hidemburgo de construir uma torre para captação de sinais de televisão para Muriaé. Para tanto, recorreu ao técnico em Eletrônica, Antenor Puchetti Filho para que encontrassem o local próprio para a instalação da aparelhagem. Após muitas pesquisas, com incursões nos mais diversos morros que circulam Muriaé, foi o Distrito de Pirapanema, na propriedade do senhor Antônio Baesso, um sítio a cerca de 1000 metros de altitude, que melhor sinal encontrou. O proprietário rural cedeu um terreno para o Clube instalar a aparelhagem e um motor a diesel era utilizado para gerar a energia necessária ao funcionamento do equipamento.
Naquele momento só tinha televisão por um período de duas horas por dia. Então, este problema foi resolvido pelo senhor Telêmaco Pompei, que possuía uma propriedade naquelas imediações e que instalou a energia elétrica no local.
Como o Clube de Televisão não possuía verba própria e vivia de doações das poucas pessoas que possuíam um aparelho de televisão, foi realizada uma reunião com o prefeito da época, Helio Araújo, que se prontificou a ajudar tornando-se, inclusive, o primeiro presidente da entidade.
A contribuição muitas vezes não era muito bem aceita e alguns se negavam a pagar, a situação financeira era muito difícil, até que foi instituído o pagamento da mesma no IPTU, graças ao falecido Prefeito, Dr. Paulo Carvalho.
A partir daí as coisas melhoraram, pois havia uma verba certa para a manutenção da transmissão dos sinais de TV. Tudo foi se acertando. Somamos a isto o advento do satélite, que eliminou a necessidade da torre de Pirapanema; hoje, ela funciona dentro da cidade.
Nós ateremos um pouco ainda a uma figura que certamente tem a sua história de vida estritamente ligada a da chegada da televisão em Muriaé. Trata-se do ubaense e técnico em eletrônica, Antenor Puchetti Filho. Foi ele que se embrenhou com outros "Bandeirantes" nas matas, pelas montanhas da região de Muriaé em busca de um sinal de qualidade para retransmitir para que a população de Muriaé pudesse, no conforto de suas casas, assistir a revolução tecnológica que vinha pelos ares.
Para isto Puchetti fez um curso para que pudesse montar o retransmissor do sinal e o mais importante, mantê-lo em funcionamento. O que, convenhamos, era o mais importante. E de fato era o mais difícil; segundo depoimentos dos seus familiares, muitas foram as vezes que expôs sua vida e dos seus filhos e ajudantes, Antenorzinho(Da ATV Eletrônica), Ângelo (Da Hermes) e o Advogado, Dr. Alexandre, nas vezes que foram socorrer a retransmissora que saia do ar, nas décadas de 60 e 70”.
Apesar de toda a dificuldade, Muriaé viveu sempre na vanguarda no que se refere à televisão e foi uma das primeiras cidades de Minas Gerais a receber sinais. Quando Muriaé recebia 4 canais, Juiz de Fora, a Manchester mineira, oferecia para a sua população apenas um canal de TV. Uma curiosidade é a inauguração da TV Globo em 1964 e Muriaé recebeu as imagens no mesmo dia da inauguração. A TV Manchete também foi recebida em Muriaé em primeiro lugar no estado de Minas Gerais.
A primeira imagem de TV em Muriaé foi vista na Rua Desembargador Canêdo, na residência do Antenor Puchetti. "Com muita honra eu falo: o meu marido conseguiu colocar a televisão em Muriaé." Disse Inimá Campos Puchetti, viúva de Antenor Puchetti.
De Pai para Filho
Nada acontece por acaso. E de fato, hoje quem cuida da manutenção dos sinais de TV em Muriaé também é um Puchetti, o filho que leva o mesmo nome do obstinado homem que fez de seu sonho de vida, trazer um sinal de televisão de qualidade para Muriaé. Antenor Campos Puchetti, proprietário da ATV, foi vencedor da licitação realizada em 2006 para a manutenção da retransmissora de TV em Muriaé. Desde então é o responsável pelo sinal que recebemos em casa todos os dias; desta vez, não duas horas por dia, mas 24 horas por dia.
Puchetti não vive mais as dificuldades que viu o pai vencer, em 1985; foram montadas repetidoras dentro da cidade, com canais via satélite, com o advento da parabólica. Na verdade, Antenor trabalhou anteriormente na função e, quando o pai adoeceu em 1982, na época ele paralisou o curso de Engenharia Eletrônica que fazia e veio para dar continuidade ao trabalho do pai, durante 6 anos.
A TV Digital está chegando; na verdade já chegou; pelo menos para São Paulo, que desde 02 deste mês pode receber o sinal digitalizado. Mas, ninguém deve se assustar, pois pode ser utilizado o mesmo aparelho, com o conversor de sinal, que é vendido separadamente e que permite captar o sinal com qualidade digital; mas é necessário que se tenha uma antena externa de boa qualidade. A diferença da TV digital para a analógica é basicamente a qualidade de imagem e alguns canais, que ao longo do tempo serão acrescentados e, além é claro, da interatividade, que promete ser o grande diferencial da TV digital.
A Zona da Mata está prevista ser atendida com o sinal digital no final de 2008, princípio de 2009. Vamos aguardar e quando estivermos assistindo aquela imagem sem defeitos, sem fantasmas, com som de CD, vamos lembrar de homens como Antenor Puchetti Filho e muitos desbravadores que lutaram como verdadeiros pioneiros numa epopéia moderna em busca, não de satisfazerem suas necessidades, mas de atender a todo um povo. Homens estes podem sem dúvida ser chamados de visionários; afinal de contas, sem eles nada do que conhecemos existiria.
Em 1983, Antenor faleceu e em 1985 foi realizada uma homenagem ”por mortem” pela Câmara Municipal de Muriaé, outorgando-lhe o Título de Cidadania Muriaeense.