Gazeta de Muriaé
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Em 16/11/2007 às 07h05

Escritor Bartolomeu de Queirós visita Muriaé

  Através de um esforço conjunto das classes política, artística e empresarial, Muriaé tem conseguido inserir-se em circuitos artísticos renomados e se destacar em pautas de diversos projetos estaduais, federais e particulares. Um deles é o “Tim Estado de Minas – Grandes Escritores” que, em 2006, trouxe à cidade a escritora Marina Colassanti e, neste ano, no dia 10 de outubro, Zuenir Ventura.

  Na última sexta-feira (09), como parte das comemorações de seus 10 anos de implantação, a Fundarte, em parceria com o projeto da Empresa Tim, promoveu uma visita do autor infanto-juvenil, Bartolomeu de Queirós, à Biblioteca Municipal Vivaldi Wenceslau Moreira, reunindo professores, alunos e órgãos da imprensa local.

  Recebido pelo prefeito José Braz e pela superintendente da Fundarte, Gilca Napier, o escritor participou de um bate-papo descontraído, seguido de uma coletiva de imprensa, durante a qual falou sobre o universo mágico da literatura para crianças e adultos e a importância da leitura para o desenvolvimento do imaginário infantil. “Não se pode achar que a infância é um lugar pequeno, porque é maior que a vida do adulto. Quando diminuímos a criança, sempre caímos no ridículo. Escrever é saber que cada um entende a vida como pode. Você tem que criar um texto para que a criança veja da maneira que pode e um texto para que o adulto veja à maneira dele. Essa é a diferença, porque se a literatura levar todo mundo a ver a mesma coisa, ela não é mais literatura, é didática. A literatura deixa vir à tona a diferença do leitor. Se todos os leitores chegarem à mesma conclusão em cima de um texto, ele não é mais literário. Então, escrever para criança não é tarefa fácil; inclusive, vários escritores de adulto tentaram esse caminho e não deram certo... Eu também não sei se existe uma literatura para criança e outra para adulto; eu acho que ou é literatura ou não é”, completou Bartolomeu.

  Nascido no centro-oeste mineiro, na cidade de Papagaio, o escritor reside atualmente em Belo Horizonte e não acredita que as cidades interioranas sofram com a escassez de movimentos culturais, principalmente, no quesito leitura. Neste ponto, ele também destacou a atuação da Fundarte como promotora de cultura em Muriaé: “Acho que todo o movimento em torno do livro, hoje, é importante e o escritor, da maneira que for possível, precisa se locomover. Não vejo mais diferença entre o interior e a capital. Atualmente, a mídia não fala em mundo pequeno; o mundo é todo grande e todas as pessoas podem ter acesso a jornais, revistas, livros e internet. Acho que essa tentativa da Fundarte em Muriaé é superválida, porque o que o Brasil precisa, de fato, e é o mais importante no momento, é de um movimento cultural, de um movimento que fale da dignidade humana”.

  Como relatou aos presentes à Biblioteca Municipal, Bartolomeu Campos de Queirós tomou gosto pela leitura logo cedo, principalmente porque, em sua época, ainda não existia a televisão. Seu primeiro livro, “O peixe e o pássaro”, foi publicado em 1971. Depois vieram “Pedro”, “Onde tem bruxa tem fada”, “Raul”, “Estória em três atos”, “Mário”, “Ciganos” e “Cavaleiros das sete luas”. Em reconhecimento a um trabalho que segue uma linha de criação coerente, sintonizada com o leitor de qualquer idade, vários prêmios já foram conferidos às suas obras, entre os quais, “Jabuti”, “Selo de Ouro” e “Prefeitura de Belo Horizonte”.

  De acordo com o escritor e arte-educador brasileiro, é imprescindível que os professores saibam despertar em seus alunos o encanto pela palavra, o que vai muito além de simplesmente apresentar-lhes o be-a-bá. “Acho que o primeiro ato para se trabalhar na alfabetização é justamente fazer a criança saber que ela tem o que escrever; assim, acho que a alfabetização seria mais rica e mais propensa a criar um leitor literário. O que tudo indica para nós, hoje, é que o livro didático não cria leitor, porque senão o país não estaria nesse pé em que se encontra atualmente... E a cartilha, a alfabetização, é um livro didático. Eu não sei se isso cria um leitor ou escritor. Eu, quando não tenho nada a dizer, fico um mês sem escrever nada. Então, se você quer levar a criança a escrever, você tem que fazê-la perceber que ela tem o que dizer. Agora, engolir o alfabeto garganta abaixo, sem saber para quê, é muito difícil”, explicou Bartolomeu.

  Para finalizar o encontro, o escritor incentivou a prática literária entre crianças, jovens e adultos e ressaltou o papel da cultura para o desenvolvimento de uma nação. Para ele, o panorama atual ainda não é satisfatório no que se refere à disseminação cultural, mas é preciso acreditar em possíveis melhorias. “A cultura é fundamentalmente social, é um movimento democrático. Você não faz nada para si mesmo, você faz para o outro, para dividir e compartilhar. Hoje em dia o povo já sente isso, sente o cansaço do consumo e percebe que a cultura, sim, é capaz de reconhecer o singular de cada comunidade. O Brasil ainda não lê tanto quanto a gente gostaria, mas os projetos de leitura têm indicado que há um crescimento de leitores. As próprias editoras que se dedicam à publicação são muito grandes e a quantidade de livros que são vendidos por ano têm crescido sempre. As editoras vêm se mobilizando em torno do livro, as escolas também se mostram preocupadas com o texto literário. Ainda não é tão bom quanto deveria ser, mas é um quadro animador”, ponderou Bartolomeu de Queirós.

Autor: Andréa Oliveira

Fonte: Gazeta de Muriaé



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