Em 09/11/2007 às 11h26
O fotógrafo, ciclista e ambientalista brasileiro José Geraldo de Souza Castro (Zé do Pedal), Assessor para o Meio Ambiente do Distrito LC12 e do Lions Clube de Viçosa, MG, realizou uma travessia inédita na história da navegação: Cruzar a Baía da Guanabara em um barco, a pedal, feito com garrafas PET.
O barco, construído por um serralheiro na cidade de Viçosa, MG, onde o ambientalista mora, foi feito com 240 garrafas de 2 litros (se colocadas em linha reta, seriam quase 1 quilômetro de garrafas) que foram doados por uma empresa dedicada a reciclagem de papeis, metais e plásticos. O resto do material foi conseguido com pequenas doações. O custo do barco está estimado em mil reais.
Apesar do mar agitado na entrada da Marina da Glória e ventos de até 15 quilômetros por hora, Zé do Pedal realizou a travessia, que teve o objetivo de chamar a atenção sobre os efeitos do aquecimento global, principalmente nos paises do Terceiro Mundo, em exatas 3 horas de navegação.
"A previsão eram ventos de três quilômetros por hora no momento da saída, mas subitamente, às 8:30 da manhã, quando estava tudo preparado para zarpar, fui surpreendido por uma primeira rajada de vento Norte, com uma velocidade de 12 quilômetros por hora. Esperei um pouco e quando era quase 9 da manhã resolvi sair assim mesmo pois a previsão era de que o vento mudaria rapidamente de direção e começaria a vir das montanhas. Apenas sai da rampa de barcos da Marina da Glória senti o peso da maré entrando, e tive que fazer a navegação praticamente encostado nas pedras para evitar a correnteza. Ao chegar à primeira bóia, já fora do abrigo da marinha, o mar estava bastante agitado com ondas de quase 1 metro de altura, o que dificultava bastante a manobrabilidade do barco, devido, principalmente, à falta de aerodinâmica do mesmo. Um suave nevoeiro cobria os principais pontos turísticos do Rio: o Pão de Açúcar e o Cristo redentor. Quando passei pelo ponto onde o barco havia quebrado o eixo no dia 30 de setembro, quando fiz a primeira tentativa, dei uma olhada apreensiva para a peça que havia quebrado, e notei que nada de anormal acontecera até então. Esta situação me deu um pouco mais de confiança no barco e passei a exigir um pouco mais, acelerando as pedaladas, para sair rápido da parte agitada do mar, e tentar ganhar o canal de navegação. Com um remo emprestado do piloto da lancha de apoio, deixei de usar o leme, e pude dar um melhor direcionamento ao barco. Ao chegar perto da Plataforma P 54, da Petrobras, o mar ficou mais tranqüilo, e a travessia começou a render, atingindo uma boa velocidade. Quando terminei de passar pela plataforma, direcionei o barco rumo ao forte de Gragoatá, porém, como os motores do rebocador estavam ligados, a força da água me jogou uns 600 metros para dentro da baía.
Com vento e maré em contra, tive uma certa dificuldade para manter o barco na direção exata do forte, sendo praticamente obrigado a colocar a proa do barco rumo à terra, a uns 400 metros da prainha, e depois, com a proteção dos morros, levar o barco até a meta proposta.
Estava tudo quase dando certo quando uma enorme lancha saiu detrás do morro da praia de Icaraí vindo em minha direção. Os tripulantes da lancha do Gmar (Corpo de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro), se posicionaram entre meu barco e a gigantesca barca e acionaram o comandante da mesma para que reduzisse a velocidade. De onde eu me encontrava a barca passou a uns 20 metros...e as ondas começaram de novo.
Passado o susto segui a risca o plano proposto em última hora, e em menos de 30 minutos, eu encostava o Pet Bateau na prainha de Gragoatá, onde fui recepcionado com alegria pelas crianças que estavam ali naquela hora.
Era meio dia. O grande desafio de cruzar a Baía da Guanabara "pedalando umas garrafas pet", era um outro sonho transformado em realidade". Comentou Zé.
O ambientalista volta às águas exatamente 2 anos depois de haver interrompido seu projeto: "Da Liberdade ao Cristo". Uma viagem que começou em março de 2004 aos pés da estátua da Liberdade, na cidade de Nova Iorque, e terminou na cidade mexicana de Dzilan de Bravo, no México depois que o barco, movido a pedal, do ciclista sofreu os embates do furacão Rita (ao todo, ele havia se livrado de outros quatro furacões: Alex, Charley, Francis e Jeannie e cinco tormentas tropicais). De Nova Iorque até Dzilan de Bravo, localizado na Península de Yucatán, havia percorrido 10 mil quilômetros, em 18 meses de viagem.
Como diz Zé do Pedal, durante o tempo que durou a viagem, pôde notar que a "cultura" da poluição atinge níveis que ultrapassam a imaginação. É o caso (lamentável), por exemplo, de Laguna Madre, no México, quando passou por quase 300 quilômetros de praia deserta. Ainda assim, relata, encontrou bastante lixo, como trator, peças de automóveis, botijões de gás e tanques de gás freon (aqueles usados em geladeiras e ar condicionados). "Até a asa posterior de um caça americano encontrei", conta.
De acordo com o ambientalista, ele escolheu a Baía da Guanabara para fazer a travessia por um motivo muito simples: é a Baía mais poluída da Costa brasileira.
"Foi uma pena estar navegando na bela Baia da Guanabara olhando as silhuetas das montanhas desenhando uma paisagem mágica da Cidade Maravilhosa, e ao olhar as águas do mar, ver uma quantidade de lixo, e peixes mortos, boiando. As pessoas estão agredindo o meio ambiente de maneira irresponsável, sem medir as conseqüências para a coletividade. Ele lembra que não levam em conta que essa agressão é contra elas mesmas, pois todo esse lixo vai parar nas praias que elas usam para seu lazer.
Gostaria que nossas autoridades, principalmente o ministro e secretários estaduais de educação criassem programas nas escolas onde as crianças aprendessem a ter respeito com a natureza, só assim teremos, em um futuro próximo, adultos com consciência ambiental, que tenham, em seus atos, respeito à natureza".
O ambientalista lembrou também que os rios no Brasil são usados como depósito de lixo: "Na viagem que fiz (também em um barco a pedal) pelo Rio São Francisco, em 2003, pude observar sacolas plásticas cheias de lixo e milhares de garrafas pet descendo do Rio das Velhas. Lamentavelmente, as pessoas não estão conscientes de que, jogando lixo nos rios, elas estão contribuindo para as grandes e constantes enchentes que, lamentavelmente, sempre terminam em tragédias, que deixam desabrigados e mortos".
Ao terminar a travessia, o ambientalista deu detalhes de seu próximo projeto: uma viagem de Piracicaba, SP, até Buenos Aires, Argentina.
"Saio de Piracicaba rumo à Capital Argentina, navegando, em meu Pet Bateau , pelos rios Piracicaba, Tiete e Paraná, percorrendo aproximadamente 3.200 quilômetros, penso completar toda a viagem em uns 120 dias".
Durante a viagem recolherei algumas espécies de lixo e depositarei em uma rede. Apenas para mostrar às pessoas que, em nossos rios, lamentavelmente, nem tudo que cai na rede é peixe".