Gazeta de Muriaé
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Em 11/10/2007 às 16h45

Dia das crianças: “A gente não quer só brinquedo!”

  Este é um século de informação e conhecimento de livre acesso a todos, inclusive às crianças. E a mídia não deixa barato, competindo desenfreadamente com a família pela atenção e educação dos pimpolhos. Os pais penetraram em um labirinto de tarefas e os filhos, muitas vezes, sozinhos em casa, nas brincadeiras de rua ou escola, se deparam com as verdades e os problemas da vida. Por isso, é comum, hoje em dia, dizer que as crianças estão muito mais espertas, que aprendem com mais facilidade e sabem o que querem. Será verdade?

  Maria Eduarda (07), já escolheu o presente do Dia das Crianças – uma bicicleta -, mas “ainda” está indecisa quanto ao que quer ser quando crescer: “Acho que juíza”, diz ela. Já Aline (11), parece estar decidida: “Quero ser pediatra porque adoro crianças menores que eu”. Seu irmão, Paulo Henrique (09) também está resolvido - quer seguir a profissão do pai, motorista.

  De fato, apesar da grande penetração dos meios de comunicação, a família se sobrepõe como um exemplo para as crianças. É dela que os pequenos tiram as bases para a construção do caráter, do ser social e até mesmo de opções para a vida profissional. Para Ayrton (12), o modelo é a irmã mais velha - quer cursar a mesma faculdade que ela, administração de empresas. No dia-a-dia, ele divide seu tempo entre as aulas, as brincadeiras com outras crianças da rua em que mora, filmes e a internet.

  Aliás, toda essa garota de hoje encontra-se conectada boa parte do dia e conhecem de cor a linguagem da informática. Orkut, site, fotolog, palavras que podem soar como que de outro planeta para muitos adultos, saem das bocas de crianças e adolescentes com uma fluidez assustadora. Para Maria Eduarda, o site da boneca Barbie e jogos de computador são os preferidos. A irmãzinha Giullya, de 02 anos e 10 meses, segue o mesmo caminho. Nem câmeras digitais e celulares escapam das duas que, facilmente, dominam as novas tecnologias. Com pais que trabalham fora, as irmãs estão aprendendo, desde cedo, a serem independentes. “Eu gosto de brincar, de ir no pula-pula... Chego da escola, faço reforço de leitura e vou para a casa da minha avó brincar com meu primo Guilherme”, conta Eduarda.

  No entanto, segundo alertam os psicólogos, apesar de todo o jeito de quem se vira sozinha, a criança sente falta da presença dos pais e muitas de suas “artes” só têm uma explicação: eles querem atenção! Os filhos precisam olhar para cima e encontrar alguém com quem possam contar como guia. Por isso, em casa, os pais não podem tirar a autoridade um do outro na frente dos filhos, sob pena de serem manipulados por eles. É aí que entra a questão dos limites, que não deve ser encaminhada apenas para a escola ou deixada na mão de terceiros.

  Mas é claro que, para os pequenos, vale tudo na infância. Questionados quanto ao que há de bom e de ruim em ser criança, eles não se fizeram de rogados. “É bom porque a gente pode brincar, andar a cavalo e fazer muitas coisas legais. Não é bom porque não podemos fazer bagunça”, confessou Paulo Henrique. “Gosto porque não temos responsabilidades, nos divertimos muito e podemos fazer coisas que os adultos não podem. Não gosto porque não podemos sair sem avisar”, revelou Aline. “O pior é quando os pais zangam, batem, colocam de castigo. Os meus são um pouco bravos, mas graças a Deus, parece que abaixou um anjo aqui em casa esses dias” – é o que dramatiza Maria Eduarda.

  Com personalidade forte, curiosa e questionadora, Eduarda costuma deixar as pessoas sem respostas diante de suas tiradas. A menina serve de exemplo para a constatação atual do amadurecimento precoce em grande parte das crianças. Quanto a isso, os psicólogos são categóricos: elas não podem se tornar a caricatura de um adulto, precisam resgatar a inocência perdida, voltar às brincadeiras de roda, pique-esconde, pular corda, entre outras. “A criança brinca com as outras e o que predomina é a diversão, o que ajuda a criar um ambiente mais infantil, mais próprio à faixa etária”, instrui a psicóloga Rafaela Régis.

  Por isso, o “Dia das Crianças” é um bom momento de incentivar esse sentimento lúdico nos pequenos. Eles querem presente, sim! Às vezes os sonhos vão além daquilo que o orçamento familiar pode bancar, por isso, é mais fácil se concentrar em pedidos comuns: atenção e carinho. Os pais podem pensar em presentes ou, até melhor, em passar com eles um dia inteiro, visitando um parque, assistindo a filmes, ou simplesmente conversando e tomando um sorvete na esquina. O importante é compartilhar deste período de extrema importância para a formação do ser humano. Com certeza, o presente será também dos pais, pois esse convívio com as crianças irá permiti-los reviver a própria história e, quem sabe, compreender o que se passa nestas cabecinhas?

Autor: Andréa Oliveira

Fonte: Gazeta de Muriaé



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