Quase metade das famílias brasileiras (48%)
não controla o uso da água. Apesar disso, sete em cada dez pessoas acreditam
que o desperdício vai levar à falta de água no futuro. Os dados são de uma
pesquisa do programa Água para a Vida, uma parceria entre a ONG WWF-Brasil e o
grupo HSBC. Banhos longos, hábitos como "varrer" as calçadas com mangueira e
não consertar vazamentos são alguns vilões responsáveis pela perda de milhões
de litros de água, segundo a pesquisa.
Para o coordenador do programa Água para a Vida, Glauco Kimura de
Freitas, o desperdício tem razões culturais, de desconhecimento e de falta de
regulação e incentivos. "A pesquisa mostrou que a visão do brasileiro é
limitada aos problemas urbanos da torneira para a frente, sem conexão com o
meio rural e com o recorte da bacia hidrográfica. Mais de 80% da população
nunca ouviu falar de comitês de bacias e da Agência Nacional de Águas", afirma.Ele cita ainda a abundância de água no país, que causa uma falsa
ilusão de que o recurso nunca terá fim. De acordo com a pesquisa, 95% das
pessoas conhecem maneiras de reduzir o consumo, mas poucas colocam em prática.Um banho de 15 minutos, por exemplo, gasta 135 litros de água, o
suficiente para abastecer uma família de quatro pessoas em regiões de pobreza
extrema. Mesmo sabendo que o gasto de água no chuveiro é um dos principais
vilões do desperdício, um terço das pessoas ainda toma banhos com duração
superior a dez minutos.A casa da aposentada Louise Diniz foge a esse perfil. "Desde que
começou a faltar água em São Paulo, comecei a economizar", conta. Ela se refere
à crise de abastecimento no Estado vizinho, que se agravou no início deste ano.
O sistema Cantareira, que abastece a cidade de São Paulo, está com cerca de 9%
de sua capacidade, e o abastecimento de cerca de 10 milhões de pessoas está
comprometido. Desde que as notícias começaram a chegar, Louise passou a gastar
menos. Na casa da aposentada, a mangueira não é mais usada para lavar calçada,
garagem, nem carro. "Aqui também não está chovendo. Eu fico preocupada", diz.A preocupação dela encontra razão nos números do Operador Nacional
do Sistema Elétrico (ONS). O sistema Sudeste/Centro-Oeste, o maior do país,
está com apenas 27,97% de sua capacidade de armazenamento. Grandes represas,
como Furnas e Três Marias, estão com 25,6% e 6,29% de água, respectivamente.A
crise hídrica já chegou a Minas Gerais. Para encontrar água e garantir o
abastecimento de cidades de diversas regiões, a Copasa perfurou mais de 80
poços profundos em diversas cidades neste ano.
A cada 100 litros, 37 se
perdem
A cada 100 litros de água produzidos no Brasil, 37,5 se
perdem antes de chegar ao consumidor. Em Minas Gerais, o índice de perdas é de
29,15%. Os números são do Instituto Trata Brasil, que faz uma relação direta
entre as perdas e a falta de recursos para investir em saneamento: "A perda financeira com a água produzida e não faturada
faz com que o setor perca recursos financeiros fundamentais também para a
expansão do esgotamento sanitário no país", diz o estudo da entidade.