Em 22/03/2013 às 11h04
"Primeiro papa sul-americano é um sinal dos tempos"
Arcebispo de Buenos
Aires e primado da Argentina, Jorge Mario Bergoglio
foi escolhido o novo Papa da Igreja Católica
Apostólica Romana, na quarta-feira (13). Após
uma eleição histórica, ele se torna o 266º Papa da Igreja - o primeiro
latino-americano e também o primeiro jesuíta.
O nome do escolhido pelos 115 cardeais foi anunciado com a tradicional fórmula latina "Habemus Papam!" ("Temos um Papa!"), pelo mais velho dos cardeais-diáconos, o francês Jean-Louis Tauran, e recebido com aplausos pelos fiéis, que enfrentaram frio e chuva na Praça de São Pedro, no Vaticano.
Bergoglio, de 76 anos, escolheu se chamar Papa Francisco, sem o numeral. Ele é um homem tímido e de poucas palavras, que goza de grande prestígio entre seus seguidores, que apreciam sua total disponibilidade e seu estilo de vida sem ostentação. Ele é admirado por seus dotes intelectuais e, dentro do Episcopado argentino, é considerado um moderado.
Para falar sobre esse assunto e a importância da eleição de um novo papa para o mundo, entrevistamos o Padre Silas Geraldo, pároco da igreja Nossa Senhora Aparecida, no bairro do Porto.
Gazeta de Muriaé- Padre Silas Geraldo, como o senhor
recebeu a notícia da renúncia do papa Bento XVI?
Padre Silas- Com grande susto. Estava num
retiro de carnaval. Só fiquei sabendo no final da tarde, quando cheguei no
Porto, para celebrar à noite. Nem mesmo acreditei.
GM- O que o senhor achou
dessa renúncia?
Padre Silas- Revendo os gestos e atitudes de
Bento XVI, compreendemos que este já era
o seu projeto: deixar sua contribuição e conscientemente passar o cargo.
Visitou o tumulo dos dois antecessores que renunciaram, deixou seu pálio
cardinalício sobre o túmulo de um deles, e sempre acenou na necessidade de um
papa mais jovem.
GM- O que o senhor acha do processo de votação, no
Conclave para a escolha de papas?
Padre Silas- O processo de votação por nós hoje
conhecido, teve origem no século 11. Antes o processo era aberto e por isso
sofria influencia política de muitas famílias importantes da Europa. Por causa
de incidentes desagradáveis, e intromissão de algumas famílias, o processo de
votação passou a ser trancado, ou seja, "Com Chaves" o que originou o nome em
Latim: Conclave. Aprecio muito este processo de votação. É livre e não sofre a
influencia do mundo exterior.
GM- O senhor acredita que tenha sido uma boa escolha?
Padre Silas- Foi uma escolha rápida, dentro do padrão dos últimos papas,
que também foram rapidamente eleitos. Isto é muito bom. É sinal que existe uma
linha de pensamento definida por parte dos cardeais. Transmite-nos segurança. É
sinal que nossos lideres religiosos não perderam o rumo.
GM- Quais as considerações o senhor faria à respeito do
papa Francisco?
Padre Silas- É muito cedo para se falar alguma coisa do novo papa. Mas, podemos considerar os sinais que ele nos tem passado: sua simplicidade; sua comunicação livre, solta; sua quebra de protocolos; e a própria escolha do nome Francisco, que é um projeto de vida, demonstram que é um homem de serviço e quer estar próximo do povo, principalmente dos mais necessitados.
GM- Nos últimos anos tem diminuído o número
de católicos. Por que esse fato tem acontecido, e o que o senhor espera que o papa
Francisco faça para contornar essa situação?
Padre Silas- A diminuição de fiéis é um fenômeno do tempo. As pessoas vivem um grau avançado de insatisfação com tudo. É comum o "vai e vem", seja de trabalho, casamento, moradia e até mesmo de religião. Não acredito que é uma situação que precisa ser "contornada". Como disse, é um fenômeno. Fenômeno tem que ser estudado e compreendido. O papa não pode fazer nada. É uma ação conjunta de toda a igreja em encarar este fenômeno, decifrá-lo e compreendê-lo, sempre em atitude de diálogo.
GM- Qual o significado da eleição de um Papa sul-americano para a Igreja?
Padre Silas- O Primeiro papa sul-americano é um sinal dos tempos. Depois que o papado ficou por aproximadamente 400 anos nas mãos dos italianos e maior parte do tempo nas mãos dos Europeus, é importante as últimas configurações do papado: um Polaco, um Alemão e agora um Latino-Americano. É sinal que a força da igreja não está mais focada num único núcleo Europeu. Esta diversidade de governo e pensamento é muito enriquecedor para a Igreja. Não tenho dúvida.
GM- O senhor acreditava que o brasileiro Dom Odilo Scherer pudesse ser o escolhido? Torceu por ele?
Padre Silas- Bem, existe o ditado que NO CONCLAVE QUEM ENTRA PAPA SAI CARDEAL. Quando vi tantas pesquisas apontando para ele, logo descobri que ele não seria eleito. É sempre assim. Em todos os Conclaves, os "papáveis" nunca são eleitos. Quando sai a fumaça branca já sabemos que o eleito não é nenhum dos preferidos.
GM- O novo Papa assume
com a função de manter a unidade de uma igreja que, nas palavras de seu próprio
antecessor, o agora Papa Emérito Bento XVI, está dividida e imersa em crises. Padre Silas, quais seriam essas
crises e o senhor acredita, que o novo papa terá condições de resolvê-las?
Padre Silas- A crise faz parte da vida humana. A igreja, embora divina e governada pelo Espírito Santo é formada por seres humanos. Sendo assim, as crises são como em nossa sociedade civil, são as mais variadas. Lidar com as crises é um desafio, não somente do papa Francisco, mas de todos nós: da família, do trabalho e da vida. Com certeza, ao dizer sim e escolher este nome, que como já disse é um projeto de vida, o papa se mostra aberto para deixar sua contribuição nos encaminhamentos das crises que, diga-se de passagem, nunca acabam. Onde há humanidade, sempre haverão crises. Superam-se estas outras aparecem.
GM- O que o senhor diria à respeito da escolha do nome Francisco?
Padre Silas- Em toda a história da Igreja tivemos três grandes Franciscos. O primeiro foi o São Francisco de Assis, que ficou conhecido pelo modo corajoso com que abraçou a pobreza e transformou a Igreja com seu jeito pobre de ser. O segundo foi são Francisco Xavier, Jesuíta, que se apresentou ao superior da ordem oferecendo-se para evangelizar somente em lugares onde o Evangelho ainda não havia sido pregado; foi o mestre das missões. O terceiro foi São Francisco de Sales. Muito inteligente e astuto, usou da escrita para levar o conhecimento da palavra ao maior número de pessoas possível no seu tempo. É o patrono das tipografias e dos jornalistas. Por isso, digo que este é mais que um nome, é um projeto. Ao escolhê-lo, nosso papa está dizendo que quer ser pobre, missionário e astuto no processo evangelizador. Tenho certeza de que seu pontificado contribuirá muito para nosso tempo. Para encerrar, desejo a todos uma semana santa de benção e paz e uma feliz Páscoa.