Gazeta de Muriaé
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Em 01/11/2012 às 10h13

Entrevista: Yuri Torres

 

"A dita falta de espaço da cidade é claramente resultado de seu próprio processo de ocupação do território sem planejamento"

Entrevista Yuri Torres

Yuri Torres é muriaeense, graduado em Arquitetura e Urbanismo pela FAU-UFRJ(2006), Mestre em Engenharia Urbana e Ambiental pela Osaka University (2010), Doutorando em Urbanismo e Pesquisador do Nucleo de Pesquisa em Paisagem do PROURB-FAU-UFRJ. É professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade Redentor nas áreas de Morfologia e Projeto Urbano. Atual interesse em paisagem digital, urbanismo sustentável e meio ambiente.

 

 

Gazeta de Muriaé - Como funciona o conceito de Urbanismo e utilização do espaço público nas cidades contemporâneas?

Yuri Torres - Primeiramente a cidade contemporânea passa por uma revisão do que seria o conceito de espaço público e espaço privado. A separação nítida desses espaços nas últimas décadas ocasionou uma ruptura muito forte nas relações dos cidadãos com o espaço e também entre eles. Além de problemas óbvios de segurança pública, a vida nas calçadas e nas praças também foi substituída por equipamentos, atividades comerciais, serviços e estacionamentos. A partir disso este conceito ainda está sendo criado, e constantemente revisto pelo próprio dinamismo das cidades, das novas funções que vão surgindo e da própria dinâmica comportamental dos cidadãos. O que já é consenso é que prezamos por cidades compactas e necessitamos de redes de espaços públicos que cumpram sua função social, de deslocamentos e também contribuam para a qualidade ambiental urbana.

 
 

 GM - De forma geral, Muriaé utiliza bem o espaço público?

Yuri - Observamos uma dualidade entre o uso tradicional, cada vez mais escasso, da apropriação das portas das casas e ruas pelas crianças e moradores e de espaços hoje totalmente tomados por equipamentos públicos, comércio ambulante, quiosques, mesas de bares e carros. Nossas antigas praças, canteiros e calçadas estão sendo esterilizados de asfalto, construídos ou privatizados indevidamente. Nesse sentido então penso que não estamos bem e quem perde em qualidade espacial são os cidadãos.

 

 GM -  A falta de espaço para obras públicas, mesmo para carros e pedestres é um problema     de vários lugares, assim como em Muriaé. Muitas praças estão apresentando alterações, como a Praça Carlos Drummond de Andrade (conhecida como Praça do  Trabalhador). A diminuição do espaço dela é correta?

Yuri - Ela vai totalmente contra as agendas urbana e ambiental contemporâneas. A dita falta de espaço da cidade é claramente resultado de seu próprio processo de ocupação do território sem planejamento, mas não justifica piorar ainda mais a situação. Se você ponderar bem esse exemplo específico, em uma cidade com clima hostil como Muriaé, que porcentagem de parque urbano ou simplesmente área arborizada temos dentro do núcleo urbano? Em compensação quantos terrenos livres ou subutilizados existem onde neles pudessem ser construídos equipamentos públicos e pouparmos um pouco os territórios de lazer?
 

GM -  Os bairros que estão surgindo, juntamente com novas ruas e espaços, estão seguindo     os conceitos de urbanismo que facilitam o dia a dia da população?

Yuri - Notadamente que não e os impactos estamos todos sentindo já a algum tempo: deslocamentos cada vez maiores com transporte público pouco racionalizado e oneroso;  pavimentação asfáltica e construções ilegais em faixa marginal de proteção, piorando ainda mais a drenagem natural; pouco comprometimento comunitário em plano de arborização urbana; apropriação indevida de espaços públicos, dentre outros.

 

GM - Quais ações são fáceis de serem definidas e que poderiam melhorar a cidade?

Yuri - Eu penso que o mais urgente hoje na cidade é sua agenda ambiental, levando em conta as tendências de crescimento urbano. Mas obviamente é primordial termos planejamento a longo prazo e para isso uma rediscussão do Plano Diretor da cidade seria necessário.

 

GM -  Muriaé apresenta muitas obras, particulares e públicas, que estão mudando as    características da cidade. Você nota uma preocupação com a mudança de aspectos do    município, a diferença de casas antigas, dividindo o espaço com grandes prédios?

Yuri - Não me preocupa tanto o processo de verticalização de uma cidade média, que não é exclusivo só daqui, e me consta que a questão patrimonial em Muriaé tem avançado um pouco e espero siga avançando. A imagem da cidade obviamente não pode ser engessada, mas deve ser tratada com maior seriedade e comprometimento mútuo de cidadãos e poder público. A paisagem urbana é de todos e é dada pelas edificações em geral, pelos espaços livres e pelas pessoas e suas atividades. Qualquer obra pública ou privada deve levar em consideração isso, não se pode agir de maneira arbitrária.

 

GM - Na sua opinião, qual deve ser o foco nos próximos anos em Muriaé para que a cidade     continue crescendo, mas com preocupação da utilização correta do espaço urbano?

Yuri - Eu vejo uma série de questões problemáticas a serem resolvidas: normas de conduta de uso dos espaços livres públicos não permitindo a apropriação e alteração indevidas; diretrizes de projetos a largo prazo de reforma e manutenção de praças e passeios,  aliadas a uma agenda séria e compromissada de maior permeabilização do solo urbano e arborização urbana,; ordenamento e restrição de tráfego em algumas zonas centrais com revisão do atual modelo de transporte público.

Autor: Gazeta de Muriaé

Fonte: Gazeta de Muriaé



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