Em 28/09/2012 às 10h02
"O grande desafio é tornar a farmácia e drogaria
verdadeiramente estabelecimentos de saúde"
Entrevista Fernando Amaral de Calais
Fernando Amaral de Calais é farmacêutico generalista e especialista em Atenção Farmacêutica e Farmacoterapêutica, atualmente cursa o mestrando em Ensino de Ciências da Saúde e do Ambiente e Diretor Técnico na DrogaSilva, em Muriaé. É também o atual presidente da Associação dos Farmacêuticos em Muriaé (Afamur). A data de 25 de setembro marca o Dia Internacional do Farmacêutico, o momento de reflexão dos profissionais desta área enquanto a participação destes no tratamento e cura de doenças, na geração de saúde e também da diversidade de possibilidades da atuação destes profissionais. Esta entrevista fala da necessidade dos farmacêuticos na sociedade, e como está a profissão em Muriaé.
Gazeta de Muriaé - Qual a importância nos dias de hoje do farmacêutico profissional?
Fernando Calais- Até os anos 50 o farmacêutico magistral exercia sua função na produção artesanal de medicamentos atendendo diretamente ao consumidor. No período pós-guerra com o aumento da demanda e o crescimento da indústria este profissional começa a perder espaço, pois o medicamento passa a ser disponibilizado em larga escala e na forma acabada, tendo os serviços farmacêuticos passado por um processo de desvalorização. Então nas décadas de 60 e 70 o farmacêutico procura outras atividades mais rentáveis e em busca de mais reconhecimento como as Análises clínicas e até mesmo a indústria, deixando a dispensação em drogarias por conta de leigos sem conhecimento técnico adequado. Isto fez com que o acesso ao medicamento se tornasse uma atividade meramente comercial, ficando assim uma lacuna na assistência farmacêutica. Nos anos 80 houve um crescimento assustador de complicações, uso abusivo e um grande número de falsificação de medicamentos foi veiculado nos meios de comunicação. Nos anos 90 o farmacêutico começa um caminho de volta através das farmácias de manipulação, e houve também o surgimento do medicamento genérico que promove uma maior qualificação na fabricação do medicamento no Brasil. Nos anos 2000 a ANVISA aumenta o controle sanitário na fabricação e comércio de medicamentos. Ocorre também um aumento exponencial no número de cursos de farmácia oferecidos e com isto o número de farmacêuticos formados lançados no mercado de trabalho em suas mais de 70 especializações reconhecidas pelo Conselho Federal de Farmácia, dentre elas a Farmacoterapêutica que qualifica este profissional para o atendimento ao público.
GM - Quais os desafios da profissão?
Fernando - O grande desafio é tornar a farmácia e drogaria verdadeiramente estabelecimentos de saúde, com disponibilização de espaço adequado para o atendimento farmacêutico ao público na orientação, promoção da saúde e uso racional de medicamentos, contribuindo assim para a redução de problemas relacionados ao medicamento.
GM - Pesquisas e o crescimento da tecnologia tem mudado também a profissão do farmacêutico, como isso ajuda no dia a dia?
Fernando - Ajuda a melhorar o nível de resultados nos mais variados tipos de tratamentos, mas também aumenta a responsabilidade em se qualificar sempre para que a farmacoterapia seja eficiente e eficaz.
GM - Qual é a situação do mercado de trabalho em Muriaé para essa classe?
Fernando - Hoje posso dizer que a assistência farmacêutica em farmácias e drogarias de Muriaé vive um excelente momento, os farmacêuticos estão assumindo de fato a Responsabilidade Técnica Sanitária. Ou seja, estão de fato presentes nas drogarias para atendimento ao usuário de medicamentos com informações seguras com amparo no conhecimento acadêmico científico, colaborando para o sucesso na escolha do tratamento médico.
GM - Muriaé possui um numero elevado de farmácias, portanto, tem uma concorrência grande, isso ajuda o profissional na busca por um emprego melhor?
Fernando - O mercado de trabalho é dinâmico e sempre movido por interesses pessoais e coletivos, então sempre surgem novos postos de trabalho. O que faz a diferença é o conhecimento e as habilidades técnicas de cada um. Na minha opinião, a concorrência ajuda a manter esta dinâmica.
GM - Quais as ações da Afamur em seu mandato em Muriaé e neste ano de 2012?
Fernando - Através da Afamur fazemos parcerias com o Conselho Regional de Farmácia de MG, com encontros, palestras e cursos. Temos nosso próprio curso de injetáveis que é aberto a qualquer pessoa que queira se qualificar. Estamos sempre divulgando vagas de trabalho e noticiando novidades aos associados.
GM - Ainda existe dúvida na população enquanto a legislação na compra de remédios tarja preta ou vermelha?
Fernando - Hoje em dia com o acesso aos mais variados meios de comunicação a população de forma geral está mais bem informada. Depois que a Anvisa criou o SNGPC (Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados) a venda de medicamentos que dependem da retenção da receita ficou mais rigorosa e a participação dos prescritores (médicos e dentistas), farmacêuticos e a sociedade em geral tem sido mais efetiva.
GM - A automedicação é um costume do brasileiro, tanto que faz parte de campanhas do governo para que isso diminua. O que deve fazer o cidadão quando buscar um remédio específico?
A busca por autocuidado com a saúde envolve a automedicação, isto é um comportamento histórico no Brasil, existe ainda a influencia da mídia para medicamentos que não necessitam de receita médica, entretanto é necessário salientar que se este medicamento tem ação no organismo também pode provocar algum tipo de reação e até mesmo interação com outros medicamentos provocando uma série de problemas ao usuário. É importante que ao adquirir qualquer tipo de medicamento isento de prescrição médica o cliente se oriente com o Farmacêutico que está lá na drogaria preparado para dar informação adequada.