Gazeta de Muriaé
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Em 20/07/2012 às 10h07

Entrevista: Tamara Almeida

  "Quem dá esmola, não dá futuro!"

 

   Assistente Social há 2 anos na instituição Casa Acolhedora Carlos Padre Seelen, Tamara Almeida vem ganhando espaço na sociedade com a realização do seu trabalho social junto com os moradores de rua, onde ela encontrou um desafio de atender essa parte da sociedade que foi deixada de lado. A Casa Acolhedora fez 3 anos que se instalou em muriaé e conta com uma equipe preparada para reduzir o número de moradores de rua na cidade.

 

              

                                ENTREVISTA

 

Gazeta de Muriaé - Qual o trabalho da Casa Acolhedora?

 

  A Casa Acolhedora Carlos Padre Seelen está localizada na Rua Julio Brandão, 168, barra (antigo Asilo). Telefone é: 3721-46-02.  Ela foi fundada em 1° de junho de 2009, em parceria com a Paróquia São Paulo e Prefeitura Municipal de Muriaé, aonde a Matriz São Paulo é responsável pelo aluguel da casa e a prefeitura se responsabiliza pelo quadro profissional. O trabalho da Casa Acolhedora é disponibilizar alimentação, higienização e passagens rodoviárias; trata-se de uma espécie de albergue, uma casa onde eles estão de passagem.

Desde a inauguração realizamos 6.333 atendimentos, dentre migrantes e pessoas em situação de rua  e foram disponibilizados 2937 passagens.

 

GM - O principal objetivo desse projeto?

 

Acolher migrantes e pessoas em situação de rua, no sentido de assegurar com qualidade os direitos fundamentais dessas pessoas, tirando-as da rua, conseguindo benefício da prestação continuada, solicitação de documentos ou ainda as encaminhando para outros serviços, como comunidades terapêuticas, no sentido, principalmente, de possibilitar que esses voltem para sua casa, ou seja, para o seio familiar, ou retornem ao mercado de trabalho.

 

GM - Como é o controle de saída e entrada dos internos? O que eles fazem no dia-a-dia? Qual o trabalho que vocês realizam com eles durante o tempo que eles ficam alojados na Casa Acolhedora?

 

Os acolhidos podem sair durante o dia, ou seja, não os privamos de liberdade como algumas casas de acolhida, ou podem ainda participar das oficinas ofertadas pela casa que são: oficina da horta, psicoterapêutica, artesanato e de geração de renda. São disponibilizadas 4 refeições por dia: café da manha, almoço, lanche da tarde e jantar. Muitos dos nossos acolhidos trabalham como catadores de matérias recicláveis ou pedreiro, dentre outras funções, sendo assim alguns trabalham durante o dia e retornam para a casa até o prazo de 18:30 da noite, como é estabelecido pelo regimento interno da Casa.

 

GM - O período máximo que um interno pode ficar, ou não tem um tempo máximo?

 

O prazo para o acolhido permanecer na casa depende do Serviço Social que analisa os casos individualmente e avalia segundo a necessidade de cada um, tendo em vista que o trabalho tem uma continuidade e que a pessoa não pode sair da casa sem se ter resolvido algo para que ela saia da situação de rua em que se encontrava.

 

GM - Qual a capacidade de internos que a casa tem?

 

A casa possui 20 leitos.

 

 

GM - Quem ajuda a Casa Acolhedora? Quem pode ajudar? Como é feita essa ajuda?

 

Atualmente a Casa precisa de roupa masculina, tendo em vista que passam pela instituição muitos migrantes e pessoas em situação de rua.

 

 GM - Quantos funcionários estão envolvidos com a Casa Acolhedora? E voluntários?

  O quadro profissional conta com uma assistente social, uma psicóloga, 6 seguranças 24    horas, 3 auxiliares de serviço geral e coordenação. Lembrando que o serviço faz parte do CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social).

 

 

GM - Como é o trabalho de conscientização feito juntamente a população de Muriaé, em campanhas como a contra a esmola? Como é esse trabalho diário?

 

Em dezembro de 2011 a Casa Acolhedora, juntamente com a equipe da Secretaria de Desenvolvimento Social, lançou uma campanha, cujo slogan é: Quem dá esmola, não dá futuro!        No sentido de atentar a população que o ato de dar esmolas acaba fortalecendo a situação de mendicância em que os pedintes se encontram; essas pessoas não precisam de esmolas e sim de serem incluídas em programas sociais e oportunidades de emprego, o que a casa vem fazendo.

A campanha tornou- se permanente devido à adesão. Além da distribuição de panfletos explicativos, foram confeccionados camisas com o slogan "Quem dá esmola, não dá futuro", e ministradas mini palestras em escolas para diversas faixas etárias, realizadas pela equipe da Casa Acolhedora em parceria com o CREAS (Centro de Referencia Especializado de Assistência Social). A equipe da casa, nesse sentido, reconhece que depois da campanha, que teve repercussão nos meios de comunicação, a população do município aparentemente diminuiu o ato de dar esmolas que era muito comum, antes do assunto ser tratado no município.

 

GM- Na sua visão, como a cidade lida com a situação das pessoas sem moradia?

 

Há um mês a Casa Acolhedora realizou um diagnostico municipal sobre as pessoas em situação de rua da cidade de Muriaé, no sentido de conhecer profundamente seu publico alvo e direcionar ainda mais suas ações.

  No decorrer da pesquisa sentimos a necessidade também de entrevistar a sociedade civil de Muriaé e diante das entrevistas constatamos que a respeito da percepção sobre os moradores de rua, 30% acredita que é falta de oportunidade, 20% afirmam que são pessoas sem perspectiva de vida, outros 20% remetem pessoas em situação de rua a desencontro ou perda familiar, enquanto 30% acreditam que são pessoas que se excluem da sociedade e observa-se que esses utilizaram a palavra "eles se excluem" e não a denominação "são excluídos", ou seja, a percepção de que existe desigualdade gigantesca no contexto neoliberal em que vivemos ainda é pequena, pois pelos questionários, somente 30% reconhecem que faltam oportunidades para esse público. Maioria das pessoas questionadas acreditam que os moradores de rua optaram por essa situação, ou seja, que foi uma decisão individual desses.

 

 

GM- Tamara: qual função você exerce na Casa? Fale um pouco da sua vida, seus projetos antigos e futuros, seu plano de carreira e se pretende continuar a frente desse projeto. Qual o retorno dele pra você, e se você está satisfeita com os resultados alcançados até agora?

        

Minha função é a de assistente social da instituição e muitas pessoas acreditam que assistente social é aquela moça boazinha que está ali para ajudar as pessoas; na verdade, a profissão não é bem assim; piedade, assistencialismo e ajuda não são palavras que fazem parte do nosso contexto profissional. Isso predominou mais na sua origem em 1930 quando a profissão ainda estava muito entrelaçada com questão caritativa; hoje todos devem saber que assistente social é profissional que teve 4 anos de formação acadêmica e que se qualificou para responder as demandas das pessoas em vulnerabilidade social garantindo o acesso aos direitos estabelecidos na Constituição de 1988.

         Quando comecei a trabalhar na Casa Acolhedora há 2 anos, encontrei um desafio muito grande: a temática da população em situação de rua ainda é um assunto pouco difundido e trata-se de um público extremamente complexo e que demanda uma atenção especializada.

Hoje nós realizamos abordagem social, ou seja, busca ativa todos os dias na parte da manhã para identificar pessoas em situação de rua e buscar a resolução de necessidades imediatas promovendo a inserção desses na rede de serviços socioassistenciais; nessa dinâmica nos deparamos com pessoas com transtornos mentais, problemas sérios de saúde e outros, ou seja, trata-se de um serviço que não pode envolver somente a assistência social, mas garantir simultaneamente habitação, lazer, saúde e tantos outros direitos dos cidadãos.

Me identifiquei muito com o serviço e, realmente, gosto muito do que faço e pretendo, sim, continuar nesta área das pessoas em situação de rua e como projetos futuros, estou planejando tentar mestrado este ano sobre esta temática. Estou muito satisfeita com os resultados tendo em vista que já conseguimos retirar muitas pessoas da situação de rua; é muito gratificante ver vários usuários de álcool ou drogas saírem da dependência química, retornarem para o mercado de trabalho ou acessarem benefícios e recebemos visitas sempre de pessoas que estavam em situação de rua, mas que conseguiram se restabelecer.

 

A Casa Acolhedora Carlos Padre Seelen está localizada na Rua Julio Brandão, 168, barra (antigo Asilo). Telefone é: 3721-46-02.

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Autor: Gazeta de Muriaé



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