Em 01/06/2007 às 07h36
Comprovando o seu pioneirismo na região e firmando a posição de Muriaé enquanto pólo de saúde, a Casa de Caridade Hospital São Paulo realizou, no dia 25 de maio, através do serviço de hemodinâmica do Unicor, um procedimento cirúrgico inédito em sua trajetória de 80 anos: o tratamento de um aneurisma cerebral pela técnica de embolização.
Trata-se de uma alternativa para as patologias neurovasculares, tais malformações vasculares e tumores, além dos aneurismas, que antes exigiam uma cirurgia convencional, com necessidade de abertura do crânio do paciente.
A emboloterapia, ou simplesmente embolização, é uma técnica de radiologia intervencionista que se aplica clinicamente há mais de 30 anos. Basicamente, consiste na obstrução intencional de um vaso em uma determinada região anatômica para impedir que continue passando sangue neste local. Para isto, um fino tubo plástico, denominado cateter, é introduzido dentro do sistema vascular e, mediante orientação de um aparelho computadorizado que emite raios X e permite ao médico enxergar através da pele, este cateter é conduzido até o local onde se deseja interromper o fluxo sanguíneo. A interrupção se dá por meio da injeção de diferentes tipos de material apropriado como partículas, fluídos, sustâncias adesivas, balões, espirais metálicas, etc.
Na Casa de Caridade Hospital São Paulo, de Muriaé, a cirurgia inovadora foi registrada por volta das 15h30, em paciente do sexo feminino, vítima de um aneurisma cerebral, detectado a tempo, através de uma tomografia.
Quatro neurocirurgiões participaram do procedimento, sob responsabilidade do Dr. Newton Abreu. A operação também contou com a equipe de Cardiologia Intervencionista do HSP e do grupo de Neurocirurgia do Hospital São José do Havaí, de Itaperuna.
“A paciente sentiu uma forte dor de cabeça, fez uma tomografia no Hospital e foi detectado o problema. Assim, durante a cirurgia, fizemos uma oclusão de uma doença chamada aneurisma cerebral, uma dilatação da artéria que leva o sangue oxigenado ao cérebro. O tratamento que a gente fez foi pela virilha, com a paciente acordada, sem precisar abrir a cabeça e operar. Ela está muito bem e em fase de recuperação”, explicou Dr. Orlando Maia, um dos neurocirurgiões.
De acordo com Maia, esta “novidade” contribui para manter o espírito empreendedor do HSP. “A hemodinâmica do Hospital São Paulo está preparada para receber os pacientes para esse tipo de tratamento e isso traz ao Hospital e à cidade a vanguarda, no que tange aos tratamentos neurológicos mais modernos no momento”, destacou.
O aneurisma cerebral é uma doença que atinge de 2% a 5% da população, caracterizando-se por uma forma de dilatação anormal da artéria que pode se romper, provocando hemorragia interna, levando até a óbito. O fumo e a hipertensão arterial são as principais causas do seu desenvolvimento e ruptura. A doença ocorre com mais freqüência nas mulheres - com maior incidência entre os 35 e 45 anos. Com o rompimento da artéria, o paciente sente cefaléia intensa, simultânea a náuseas, vômitos e rigidez na nuca. Em alguns casos, ocorre perda da consciência.
Antes da adoção do método de Embolização por Cateter, o tratamento de aneurisma já era feito no HSP através do método convencional, a craniotomia, isto é, a cirurgia de abertura do crânio, durante a qual é colocado um grampo no aneurisma para não permitir mais entrada de sangue. Esse procedimento tinha entre seis e oito horas de duração, de acordo com a complexidade do aneurisma. Por sua vez, a embolização, sendo um tratamento percutâneo, no qual se dá a punção de apenas uma artéria - com o paciente acordado e sem necessidade e anestesia geral -, tendo menor tempo de duração e permitindo uma recuperação muito mais rápida, com menos complicações clínicas para o paciente.
Apesar de todos os benefícios da embolização, a cirurgia convencional ainda é requerida em muitas situações, como lembra Dr. Orlando Maia: “A convencional é tão importante quanto a embolização, sendo, em alguns casos, melhor para o paciente, principalmente em fases mais graves. A embolização é mais rápida e mais segura, indicada para casos em que o acesso à cirurgia é mais complexo, devido à maior contração das artérias, os vasoespasmos. Por não abrir a cabeça e ser mais rápido, o procedimento por embolização facilita a recuperação do paciente, tendo índice de infecção quase zero. Já o outro exige mais tempo de UTI, além da questão do corte. Mas, como já disse, em algumas situações, não existe alternativa e a cirurgia convencional tem que ser feita”, frisou o neurocirurgião.
Para Dr. Botelho, médico da equipe de Cardiologia Intervencionista do HSP, o trabalho em equipe foi um dos fatores de sucesso da cirurgia: “Nós montamos um grupo multidisciplinar para tratar uma patologia extremamente grave, o aneurisma, que, em termos de tratamento convencional, tem entre 20% e 25% de mortalidade. Nosso grupo - da Cardiologia intervencionista do HSP, junto com Dr. Newton, Dr. Carlos, Dr. Maurício e Dr. Orlando - já atua em Itaperuna e agora estamos começando no Hospital São Paulo para dar uma opção de tratamento”.
Segundo a equipe de neurocirurgiões, essa última iniciativa do HSP terá grande repercussão social e profissional. “É um ganho para a população, porque, junto com isso, vem o tratamento do stroke, que é o infarto cerebral - e das complicações pós-operatórias da clipagem do aneurisma, que é o tratamento do vasoespasmo pós-operatório. E também um ganho para os próprios profissionais de Muriaé porque a medicina intervencionista não é só encéfalo, coração; existem outras especialidades que podem precisar e depender da medicina intervencionista”.
Mais uma vez, a Casa de Caridade Hospital São Paulo, através do trabalho atuante do Unicor, marca sua história com inovação, modernidade e busca de procedimentos que possam contribuir para a melhoria da saúde pública em Muriaé e região.