Gazeta de Muriaé
  • Facebook
  • Instagram
  • Twitter

Em 30/04/2007 às 13h11

Leandro Mazzini divulga seu blog literário

Leandro Mazzini e Carlos Heitor Cony, da ABL

Em visita à terra natal, Leandro Mazzini divulga seu blog literário, um dos mais acessados do País
  Não fosse pelo dinheiro obtido com o empenho de um liquidificador e de uma batedeira, o escritor colombiano Gabriel Garcia Márquez jamais teria conseguido enviar os originais de “Cem anos de solidão” para a editora, o que privaria a humanidade de uma das obras mais fantásticas do realismo mágico. Essa é apenas uma das muitas curiosidades literárias que podem ser encontradas no Jblog do jornalista muriaeense Leandro Mazzini.

  Aos 30 anos, formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), do Rio de Janeiro, Leandro mantém, desde maio de 2006, no site do Jornal do Brasil (JB online), um blog – diário virtual no qual desenvolve assuntos relacionados ao universo da literatura, com espaço para comentários dos visitantes, no endereço www.jblog.com.br. “A idéia do blog ajudou muito na divulgação dos temas. Às vezes uma pessoa do interior, não consegue receber o jornal ou a revista, mas, em qualquer lugar do mundo, é possível acessar e ler o blog, e isso é interação, pois ele  também é aberto a comentários”, ressalta.

  Aficcionado por leitura e amante da literatura latina, Leandro Mazzini, que hoje é repórter político do Jornal do Brasil impresso, procura atualizar seu “cantinho” todo santo dia, seja com notícias do mundo das letras, releases de obras recém-lançadas, bastidores das feiras literárias e links (atalhos) para matérias em outras páginas. “Tem dia que não dá para atualizar, pois estou enrolado com alguma pauta, mas é preciso acompanhar essa dinâmica da internet, então, quando posso, faço dois ou três posts; essa exposição exige muito que você esteja antenado com as situações e as passe o quanto antes para as pessoas, porque elas cobram”, explica o blogueiro. 

  A disciplina imposta pelo jornalista a si mesmo tem tido retorno. De acordo com o setor de tecnologias do site, que faz acompanhamento de outros blogs, o dele tem cerca de 1.200 acessos diários, configurando como um dos mais visitados do Brasil. Na mesma linha, segue o “Todo Prosa”, blog do também muriaeense Sérgio Rodrigues, que atualmente vive no Rio de Janeiro.

  Para Leandro, porém, muito mais que os números do sucesso, importa ver a divulgação de seu assunto preferido pelos quatro cantos do mundo. “Acho que a literatura é um assunto em alta na atualidade e eu gosto de acompanhar essa evolução. As pessoas estão se conscientizando de que a literatura faz parte da vida da gente e, cada vez mais, a gente temos sites sobre o tema. Até mesmo escritores que nunca se lançaram têm na internet um espaço aberto para publicar seus textos e, daí, acabam aparecendo editoras para contratá-los”.

  O muriaeense também sabe como é difícil fazer frente a outros atrativos da internet, como orkut, youtube e jogos, e, por isso, além da constante atualização, procura mesclar informações literárias com história próprias (as “croniquetas”), entrevistas curtas com escritores, dicas de leitura, notas sobre a Bienal do Livro ou sobre a Festa Internacional da Literatura de Parati. “Sempre tem que ter o diferencial, não fugindo do que é factual. Assim chamamos a atenção e assim é que se começa a fidelizar o leitor. Tem gente que visita o site todo dia, tem gente que entra só uma vez e esquece, mas acaba indicando para o amigo. Eu me coloco na visão do leitor: o que eu, como leitor, gostaria de ler no blog do Leandro? Tem muito blogueiro que trabalha com ego e usa o espaço para falar da própria vida, de quem conhece, aí vira um testamento... coisas que o leitor não está a fim de saber. Se a literatura não foi até hoje divulgada e valorizada como deveria e merece ser feito pelos meios de comunicação convencionalmente conhecidos, a internet chegou para ajudar, seja com o blog, o email... Daqui a pouco todo mundo vai ter email, vai ter computador. Não quer dizer que o jornal, a revista e o radio vão acabar, mas que irão ajudar a aprofundar as informações. Esse hoje é o papel dos impressos”, diz Mazzini.

  Os livros são amigos de longa data do também escritor Leandro, incentivado à leitura, desde pequeno, pela mãe, que lhe comprava as saudosas revistas “Nosso Amiguinho”. “Eu ficava doido, as revistas eram tão valiosas quanto meus brinquedos e eu me dividia entre eles. Eu também tinha um caderninho de poesia que depois perdi e, naquela época foi a maior perda para mim. Sempre li muito, quando criança não lia jornal, mas lia a “Nosso Amiguinho”, as crônicas do Drummond e do Paulo Mendes Campos. Isso sempre me acompanhou, eu sempre tive ficha aqui na Biblioteca Municipal e em todas as cidades em que morei”, conta. Para ele, cabe à família e a escola o papel de despertar as crianças para a literatura: “Os pais podem fazer isso ensinando ao filho, desde cedo, que a leitura literária, jornalística e diária fazem falta e, na escola, os professores podem reforçar isso. Tem que ser feito um encadeamento e, daí, da escola para frente. As crianças têm que ser conscientizadas de que a internet, por exemplo, tem outras coisas legais, inclusive os blogs, que também mostram muita coisa legal”.

  Os autores de grande influência na infância permanecem até hoje, ao lado de Rubem Braga, Stanislaw Ponte Preta, Gabriel Garcia Márquez (o do liquidificador e da batedeira empenhada), Mario Vargas Llosa, Luís Fernando Veríssimo, Ernest Hemingway  e Carlos Heitor Cony. Nos últimos tempos, os romancistas, entre eles Jorge Amado, têm despertado o interesse de Leandro. “Os romancistas brasileiros são maravilhosos, assim como a literatura latina é maravilhosa - para mim, a melhor do mundo. Os autores latinos Llossa e Garcia Márquez são imprescindíveis para quem gosta de ler e quer uma boa história”, resume.

  A trajetória de Leandro Mazzini na carreira jornalística remonta à adolescência em nossa cidade e à primeira experiência na área, no jornal Gazeta de Muriaé, sob tutela do médico e jornalista Waltecy Garcia. “Quando eu falei lá em casa que queria ser escritor, eles não gostaram muito, falaram para pensar em outra profissão, mas eu descobri que gostava mesmo era de escrever. Na escola aqui em Muriaé, eu já fazia um jornalzinho pirata, que tinha razoável sucesso entre os colegas e, em 96, eu comecei a colaborar para a Gazeta de Muriaé, publicando minhas crônicas. O Dr. Waltecy sabe muito bem disso, ele sempre abriu as portas para mim e eu digo que comecei minha carreira jornalística na Gazeta, e hoje, quando posso, também colaboro com outros jornais da cidade. Se não fosse a reciprocidade das pessoas me pararem na rua e comentarem o que eu escrevia, eu não teria chegado até aqui, não tinha nem feito o livro”, relembra.

  Durante a faculdade, Leandro foi estagiário do JB Online e, em 2002, passou a compor o quadro de profissionais da parte impressa do Jornal. Apesar do objetivismo da reportagem política, ele não deixou de lado a literariedade da escrita. Em 1999, lançou seu primeiro livro, “O Espelho da Vida” e, quatro anos depois, “O Sorriso do Arlequim”, finalista do Prêmio João de Barro, de Belo Horizonte. Outros projetos estão guardados “para o momento certo”, como ele mesmo diz. As palestras seguem em várias cidades. Em junho, ele apresenta suas obras na Fest Ler de Juiz de Fora, onde também irá presidir uma mesa de debate com tema sobre cultura popular. “O meu projeto é ser divulgado nacionalmente e continuar levando o nome da minha cidade; gosto sempre de falar de onde sou, como comecei a escrever. Acho importante porque você mostra suas raízes para as pessoas e mostra que, independente do sonho que queiram seguir, elas podem chegar lá”.

  Ciente de seu papel como formador de opinião e disseminador da cultura, o jornalista/escritor aponta a maior conquista de sua vida até o momento - a satisfação: “Até hoje não ganhei dinheiro nenhum com literatura. Eu faço mesmo por prazer, faço o meu papel, porque não há satisfação maior que uma criança te pedir um autógrafo ou uma pessoa te parar na rua para comentar sua crônica. Isso é muito satisfatório para um escritor, não tem dinheiro que pague. Faço tudo isso olhando esse lado da satisfação, esse é meu combustível; quero que as pessoas me parem e, inclusive, critiquem, me mostrando o caminho que devo seguir. Quanto mais isso acontecer, mais eu vou ficar feliz. E assim tem dado certo”, finaliza Leandro.

Autor: Andréa Oliveira

Fonte: Gazeta de Muriaé



Gazeta de Muriaé
HPMAIS