Gazeta de Muriaé
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Em 09/12/2011 às 09h56

Moradora ilustre de Belisário fala sobre suas experiências de vida

D. Aurelina de Oliveira Campos Campos, a popular e simpática D. Nina, neta do fundador do distrito de Belisário e moradora daquele local, atualmente aposentada e cidadã que muito contribui com a vida sócio-cultural do povoado, fundadora e mantenedora do Grupo de Artesãos de Belisário, tem uma rica história de vida para contar, com experiência profissional no exterior, formação universitária e em mais de um idioma e muita bagagem acumulada em seus bem vividos 82 nos. Ela própria aproveita o espaço para contar sua experiência de vida e dar alguns sábios conselhos aos leitores, confira abaixo:

D. Nina por ela mesma

Sou Oficial de Chancelaria aposentada. No Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty), uma das carreiras é a de OfChan, que atende a vários serviços diplomáticos nas Embaixadas do Brasil em todos os países do mundo. Exige formação universitária, e idiomas. No meu caso, cursos de Letras, da Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil, de Administração, da Fundação Getúlio Vargas, com bolsa de estudos nos E.U.A, inglês, Cultura Inglesa e IBEU,  e francês, da Aliança Francesa, todos no Rio de Janeiro e concurso público do Instituto Rio Branco (Itamaraty).

Vivi no exterior por 32 anos. O primeiro posto em Nova York, onde atendia consultas por telefone, durante quatorze anos. Na maioria, de empresários americanos desejosos de iniciar negócios com o Brasil, ou no Brasil. Assuntos muitas vezes exigindo consultas a órgãos no Brasil e pesquisas prolongadas. Todas eram cadastradas e as respostas registradas e arquivadas por assunto. As fichas eram preenchidas em datilografia, a comunicação com o Brasil por telex ou codificadas por criptografia manual.

Exerci outras funções em Embaixadas brasileiras nos mais diversos países, na área de cerimonial, expedição de documentos, mala diplomática, criptografia, etc. Quando em exercício na antiga Iugoslávia, fiz um curso de Turismo, na Universidade de Belgrado e estágio em Genebra, Suiça, de criptografia eletrônica (cifração de telegramas, relatórios, notícias, etc. de caráter reservado, confidencial ou secreto que as embaixadas trocam com os seus países), após o qual percorri praticamente todas as nossas Embaixadas na África e no Oriente Médio.

Quando o governo brasileiro começou a reatar as relações diplomáticas com a antiga União Soviética, fui enviada de N.Y. a Moscou, onde encontrei outros diplomatas e a OfChan, Eliane Moreira. Tínhamos a missão de instalar uma Legação que viria, depois, a ser a Embaixada definitiva. Nesse tempo, lidar com o mundo comunista era muito complicado.

Há muita coisa que eu poderia contar sobre minhas funções em missão no exterior. Para arrematar: devido às enfermidades em meu marido, maestro Leo Peracchi e, em minha mãe, Waldevina Alves Pereira, esta neta do fundador de nosso distrito, Belizario, Alves Pereira, vim para um posto próximo do Brasil, Paraguai. Na Embaixada em Assunção, conheci muitos assuntos e aspectos da relação América Latina/Brasil que me faltavam. Foi fascinante, também.

Aí, em 1985, me aposentei e fiquei morando no Rio. Já sem família (filhos não tive), resolvi vir para Belisário, em 1991. Nunca me arrependi, tenho procurado contribuir na vida social e comunitária, fundando e mantendo o GRUPO DE ARTESÃOS DE BELISÁRIO – GAB e apoiando, de alguma maneira, outras instituições de caráter sócio-cultural. 

Nasci em Miradouro. Na minha infância, vim muitas vezes com minha mãe e meu irmão Aloysio visitar parentes em Belisário. Daí, meu laço afetivo com o lugar; tenho muita satisfação e orgulho de morar aqui, conhecer todo mundo, ver o progresso chegando, o desenvolvimento florescendo, a meninada estudando, tendo transporte escolar, merenda, formando seu caráter como cidadãos exemplares, brincando de bicicleta ou no computador, assistindo as formaturas desde a creche, é de chorar de tanta alegria! Agora que estou aposentada e no meu código de ética já não tenho mais que conter emoção.

Guardo comigo muitos aspectos de minha formação profissional: que a diplomacia é o melhor caminho em qualquer circunstância, que não se quebra um compromisso por qualquer razão, irritações e tristezas se resolvem com um bom descanso, coragem e lealdade são virtudes que a gente adquire ao longo da vida, respeito enche a gente de orgulho e contentamento, a maior prova de amizade é ouvir o próximo, o inimigo mais perigoso é a ignorância: o que você soube no passado, precisa ser atualizado a cada dia, mesmo que estejamos, como eu, já emplacando 83 anos de idade.

 

 

Autor: Gazeta de Muriaé

Fonte: Gazeta de Muriaé

Tags: moradora, experiências



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