Gazeta de Muriaé
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Em 08/09/2020 às 15h18

EU, EU E MAIS EU: O ADULTO A JATO

Nicélio Amaral Barros (Historiador. Doutorando em História Econômica pela Universidade de São Paulo - USP. nicelio@usp.br)

" Quem quer dinheiro? "
(Sílvio Santos)
As relações sociais estabelecidas por nós, seres humanos, é a chave para que possamos compreender os destinos de cada família, rua, bairro, cidade, região, estado, país. Aquilo que nós comumente chamamos de cotidiano, de dia a dia, tem um nome específico: as relações sociais.
No sistema capitalista no qual vivemos (sobrevivemos) aprofundaram-se as relações econômicas representadas por duas forças antagônicas: o capital e o trabalho. Assim, as relações sociais capitalistas criaram algo maior que a interação social entre as pessoas. Estabeleceu a divisão entre CNPJ e CPF.
Portanto, quando alguém contrata outro alguém para trabalhar para ele, ou para lhe prestar serviço, está na realidade contratando não a pessoa em si, mas a sua força de trabalho. O dinheiro compra especificamente o trabalho, não a pessoa.
Vítima dos seus próprios efeitos, o dinheiro (moeda) tornou-se a principal mediação social entre as pessoas. Isso é, quase em regra geral, uma novidade da evolução do sistema capitalista. Bilhões de pessoas pelo mundo não conhecem nem mesmo os seus patrões. Algum gerente, que também é empregado, tornou-se a figura mais próxima daquilo que se pode chamar de patrão.
O dinheiro não tem pátria. Transforma-se feito camaleão, várias vezes ao dia, de real em dólar, de dólar em euro, de euro em yuan, e assim por diante.
Tudo isso dito acima, que é simples e ao mesmo tempo muito complicado, tem um efeito básico na mente da maioria das pessoas: o desentendimento dos ciclos econômicos.
Quem não entende (ou pensa entender), se torna vítima fácil do sistema. É a partir da incompreensão, da falta de conhecimento e de informação, que procuramos a segurança necessária para sobrevivermos. Daí o poder do capital e de quem o detém.
E é na busca (competição) pela segurança de nossa sobrevivência que o capitalismo (e os capitalistas) conseguiram a sua grande vitória: o crescimento desenfreado do egoísmo.
Uma vez egoísta (rico, médio ou pobre), a pessoa tende a romper a solidariedade nas suas relações sociais. E a característica principal do ser humano (as relações sócias) passam a ser corrompidas, pervertidas, maquinizadas, robóticas, desrespeitosas, cruéis, assassinas.
Nos tornamos egoístas em tudo. Da fila nos mercados à condução dos veículos. O sistema nos infantilizou e, conforme as crianças, somos adultos-infantis que queremos tudo agora. Nossos interesses são sempre mais importantes do que os dos outros. "Nosso tempo" tem que estar à frente do "tempo do outro".
No sistema capitalista, sente-se mais a perda do patrimônio material do que a de um ente querido. 
Nos roubaram o direito sagrado ao luto. Não há mais tempo para isso. 
As relações sociais tornaram-se, basicamente, a exploração do trabalho pelo poder do capital.
Não aprendemos nada com a história. 






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