Gazeta de Muriaé
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Em 25/08/2020 às 17h08

O PACIFICADOR DE OSSOS: UMA CRUZADA PELA VIOLÊNCIA

Nicélio Amaral Barros (Historiador e Doutorando em História Econômica pela Universidade de São Paulo - USP. nicelio@usp.br)

Toda e qualquer forma de violência é desprezível. As duas maiores conquistas daquilo a qual chamamos de civilização é o respeito ao próximo e a capacidade de diálogo. A capacidade da fala, dada ao ser humano, serve para o quê? A violência é sinônima de barbárie. É a arma dos fracos.
Isso vale para todos os seres humanos. Inclusive para os mortos. Violar um jazigo é um ato odioso, nojento, criminoso.
Quanto uma autoridade pública constituída agride com palavras de baixo calão a qualquer pessoa, está ofendendo a toda uma Nação. Na prática, o ato significa um desrespeito, uma agressão a qualquer forma de civilidade.
As pessoas violentas, quando acuadas, respondem com a forma típica que lhe é peculiar: o ataque covarde e desonesto.
É completamente diferente dos animais irracionais que somente atacam para se defenderem de uma situação na qual a sua integridade física parece estar em perigo. Está defendendo a sua vida.
Chamar um agressor humano de burro, é uma ofensa inominável ao animal.
Boa parte das mazelas humanas pelas quais passamos origina-se da violência, do despautério e da incapacidade do diálogo. Mesmo numa situação desconfortável, cabe uma resposta na qual o interlocutor seja respeitado. Pode-se dizer mil coisas, menos o ataque covarde e desumano.
A mãe de todas as formas de violência é a verbal. A partir dela desenrola-se uma séria de outras formas, até se chegar àquela na qual a vida humana, ou qualquer outra forma de vida, é ceifada. A bestialidade, nua e crua.
Sempre que presenciamos ou temos acesso a algum tipo de violência, devemos pautar nosso pensamento para uma das mais nobres emoções que possuímos: a empatia. A capacidade de nos colocarmos na condição daquela pessoa que está sendo atacada gratuitamente. Não importa se o agressor seja alguém que nós amamos, apoiamos ou admiramos. Coloque-se no lugar do agredido. Poderia ter sido com você.
Responder a um profissional da imprensa com uma frase "que vontade de te dar uma porrada" ou chamar de "bundão" as vítimas fatais de um vírus cruel e desconhecido, é, no mínimo, razão para que uma Nação exija pedidos de desculpas públicas e notórias. 
Caso isso não aconteça, pode ter a certeza: o inferno é logo ali. Não há futuro razoável para uma sociedade na qual se admite que o presidente da República pratique tais crimes de violência.
Apenas imagine que ao fazer uma pergunta honesta para qualquer pessoa, sobretudo para alguém que deve explicações para mais de duzentas milhões de pessoas, você receba uma resposta ameaçadora. Imagine também que todos aqueles que perderam a vida para o coronavírus - ou qualquer outra doença viral - seja um "bundão". 
Caso você aprove as atitudes hostis relatadas acima (favor não confundir apoio político com apoio a atitudes despropositais), então estará contribuindo com um projeto de sociedade donde a violência será imperativa. Favor comprar suas armas de fogo (sua forma de dialogar) e sair por aí resolvendo os seus problemas diários. Caso alguma pessoa lhe pergunte algo que você não goste, "manda bala", "prega fogo nela". Pronto. Estará tudo resolvido.
Ah, e não se esqueça de chamar todos os milhões de mortos pela Covid-19 em todo o mundo de "bundões". Incapazes de sobreviverem a uma gripezinha.
Também não se esqueça de que quase sempre o violento é também um hipócrita. Depende de uma pandemia para fazer subir sua popularidade, apesar de nega-la. Sem a "gripezinha" e o Auxílio Emergencial, o governo cai. Não há contradição: há cretinice. 
Os rumos do Brasil estão em xeque. Ou "em cheques".  



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