Gazeta de Muriaé
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Em 24/07/2020 às 23h38

OITO MOTIVOS QUE EXPLICAM A ALTA NA AVALIAÇÃO POSITIVA DO GOVERNO BOLSONARO

Nicélio do Amaral Barros (Historiador e Doutorando em História Econômica pela Universidade de São Paulo - USP. nicelio@usp.br)

Política é, cada vez mais, algo muito dinâmico. Apesar de seguir uma certa lógica, "tudo pode mudar muito rapidamente". O mesmo cenário de hoje pode-se alterar em razão de dias. Depende do "imaginário coletivo" predominante.
Isso vale para qualquer tipo de eleição, onde haja forças da situação e da oposição. Ou seja, onde exista disputa política.
Até aqui, apesar de todos os pesares, a estratégia política de Jair Bolsonaro vem se consolidando como vencedora. Mesmo diante de tantos desatinos, tensões, ameaças, frases e situações esdrúxulas. Mesmo com um general sem formação médica no comando do Ministério da Saúde. Mesmo diante de tudo após um ano e meio na presidência da República.
Apesar de 80 mil mortos pelo novo coronavírus e mais de 2 milhões de brasileiros infectados pela doença. Apesar dos índices recordes de desemprego, de mais de 700 mil empresas que fecharam as suas portas e de uma estimativa de queda do PIB (Produto Interno Bruto - a soma de todas as riquezas produzidas pelo país) da ordem de 9%. Uma tragédia econômica.
Pois somados todos os percalços, Jair Bolsonaro venceria, caso as eleições fossem hoje, qualquer candidato no 2º turno das eleições presidenciais. Segundo pesquisa divulgada nesta semana pelo Instituto Paraná Pesquisas, o presidente voltou ao patamar de 30% de ótimo e bom, com 24% de avaliação regular. Se mantém equilibrado, forte e muito competitivo.
Mas quais fatores explicam tal tendência?  
Em primeiro lugar, a cultura política do brasileiro, em geral, ainda é a do "apadrinhamento". Mesmo que o Congresso Nacional vote um Projeto que beneficie parte da população, as pessoas "enxergam" que o responsável pelo benefício é o presidente da República. No caso do Auxílio Básico Emergencial, Bolsonaro de início, era absolutamente contrário. Depois evoluiu para 3 parcelas de R$ 200,00. Foi derrotado pelos deputados e senadores. Prevaleceram as três parcelas de R$ 600,00. O mesmo se deu com a prorrogação de mais duas parcelas. O Congresso Nacional derrotou o presidente. 
Resumo da história: o que prevaleceu no "imaginário popular" é a visão de que Bolsonaro "deu" as três parcelas e ainda "deu" mais duas parcelas. No forte presidencialismo brasileiro, tudo "cai nas costas" do presidente da República. Tanto os aspectos negativos, quanto os positivos.

O auxílio emergencial pode injetar até 300 bilhões nas mãos dos mais pobres. Quem precisa da ajuda estatal para sobreviver é governista não por opção, mas por "precisão". Resultado: o capitão cresceu entre o povo. O tempo irá nos dizer a dimensão dessa gratidão. 

Em segundo lugar, a estratégia de jogar no colo dos governadores e prefeitos, o combate à pandemia, parece estar surtindo efeitos positivos para Bolsonaro. A mesma pesquisa aponta que, enquanto sobe a popularidade do presidente, governadores e prefeitos veem as suas avaliações em declínio. Ou seja, é deles "a culpa" pela tragédia pandêmica-econômica que estamos passando, segundo a visão da população. 

Em terceiro lugar: o governo está se reorganizando razoavelmente bem, apesar de alguns insucessos (como na votação na Câmara em 1º turno do Fundeb - Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica). O caso Queiroz em nada atingiu ao presidente, pelo menos até o momento. Muito menos a saída de Sérgio Moro do governo. Bolsonaro continua como o paladino do combate à corrupção. Segundo a pesquisa divulgada. O presidente afastou alguns ministros que "falavam demais" e, ao que parece, vem estabelecendo relações mais cordiais com os demais Poderes da República.

Em quarto lugar, está o papel desempenhado pelo agronegócio. Este setor foi responsável por quase 45% das exportações brasileiras em 2019. Tanto a produção quanto as vendas vêm crescendo durante 2020. Mesmo com as ofensas (e preconceitos) injustificáveis por parte do governo federal brasileiro para com a China e os chineses e as "trolagens" que o presidente norte-americano, Donald Trump, aplica ao Brasil, esses dois países continuam a comprar continuamente produtos primários brasileiros (agrícolas, pecuários, minerais).

Sabemos que o setor é dominado por latifundiários, desmatadores, posseiros, grileiros de terra e que persiste a prática, cada vez mais incentivada do uso indiscriminado de "venenos alimentares". Porém, no cotidiano da população, o que vale é são os milhões de empregos diretos e indiretos que o setor oferece, a dinâmica de produção (máquinas, fertilizantes, defensivos agrícolas, logística de armazenamento e transportes), e o giro de capital que propicia nas regiões onde está instalado. 

Em quinto lugar e fundamental: Bolsonaro permanece praticamente "messiânico" entre as camadas de pensamento conservador na sociedade, sobretudo entre os evangélicos e mais ainda dentre esses, os neopentecostais. O brasileiro "parece ser" liberal, tranquilo, "beleza", do ponto de vista do comportamento. Mas não é bem assim. Somos muito conservadores e preconceituosos. Penso que cada vez mais. Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), apontam para que até o ano de 2032, os evangélicos serão maioria entre a população. A opção já é e será ainda mais: quem não se sentir bem em morar no Brasil, deixe-o. Hoje o mundo é globalizado. Mude para onde bem entender. Bolsonaro sempre falará em "nome de Deus" e radicalmente defensor dos valores tradicionais do que seria uma verdadeira família cristã.

Em sexto lugar e de importância vertebral: o apoio dado ao pensamento e práticas de Bolsonaro por parte das diversas instituições militares. Diretamente, temos hoje 750 mil pessoas na estrutura militar, entre ativos, inativos e pensionistas. São mais de 600 mil policiais militares, civis e bombeiros. Ou seja, quase 1,4 milhão de pessoas afinadas com o capitão. Cada qual com suas famílias e pessoas com quem convive e, eventualmente, influencia. É uma coluna central de apoio ao presidente. Uma estrutura que se apossou de seu governo e é maior do que ele.

Em sétimo lugar e decisivo. O poder está, onde o dinheiro está. Os importantes apoios dados a Bolsonaro e que continuam praticamente intocáveis pelas elites financeiro-bancárias nacionais e internacionais. Estas, como sempre, de olhos nos recursos e mais recursos públicos, em créditos de trilhões de dólares, no aumento dos lucros via a destruição dos direitos trabalhistas, nas privatizações do patrimônio e das riquezas nacionais, incluídas aí a Previdência Social, a Petrobrás (bacias de petróleo, pré-sal e capacidade científico-tecnológica), Banco do Brasil, água e minerais diversos.   

Em oitavo lugar, o papel da comunicação, sobretudo a digital, desempenhado pelo governo Bolsonaro. Aqui a partida está de 10 x 0 em cima das oposições. Boa parte da grande mídia, sejam de canais de TVs abertas ou por assinaturas, emissoras de rádio, jornais, internet e tudo o que ela oferece e aplicativos diversos. Se trata de uma comunicação propagada para segmentos específicos de sua base de apoio, sobretudo com as camadas mais pobres da sociedade. Tem trazido resultados práticos muito eficientes para a imagem do presidente. No caso do uso da hidroxicloroquina, por exemplo, os médicos estão sendo persuadidos a usa-la em pacientes infectados pelas famílias dos próprios pacientes. O "pessoal de branco" está sob uma pressão inédita e, em sua maioria, absolutamente de "bico calado".

As articulações de tudo o foi escrito até aqui com o discurso repetitivo de Bolsonaro voltado para os valores baseados na ordem, família, Deus, trabalho, segurança, prosperidade, "caça aos vagabundos e inimigos do Brasil", vem trazendo resultados positivos para o presidente. Tem o apoio das elites, dos militares, dos evangélicos, de pequenos e médios comerciantes (de visão conservadora) e de boa parte das camadas mais pobres (apoio turbinado pelo Auxílio Básico Emergencial, entre outros Programas).

Bolsonaro não é imbatível. O que demonstramos aqui são resultados de uma pesquisa. Tudo pode acontecer. Mas ele está gostando, a cada dia mais do poder e aprendendo a lidar com ele. Caso as oposições (esquerda, centro e direita) não entrarem em campo, não deixarem de se comportar como "enxames perdidos", será um jogo difícil, muito difícil de ganhar. 



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