Gazeta de Muriaé
  • Facebook
  • Instagram
  • Twitter

Em 17/07/2020 às 12h25

DUAS QUESTÕES RELEVANTES SOBRE A PANDEMIA E A ECONOMIA

Nicélio do Amaral Barros (Historiador e Doutorando em História Econômica pela Universidade de São Paulo - USP. nicelio@usp.br

A primeira questão trata de algumas considerações sobre a realidade da covid-19. Pode parecer óbvio, mas a Resolução número 16/2020, de 06 de julho de 2020, expedida pelo Comitê Extraordinário Covid-19 em Muriaé, gestor do combate ao novo coronavírus no Município, não "determina o fim da pandemia".

De forma clara, a Resolução n. 16/2020, aponta e demonstra quais setores e serviços da economia que estão em condições de funcionar, seguindo padrões e normas técnicas adotadas de acordo com outros comitês gestores da crise sanitária no Brasil e no exterior, e que orientam suas atitudes e decisões pelas instituições oficiais de combate à doença, por todo o mundo.

Então, decisões que parecem claras, às vezes necessitam de ser repetidas e reafirmadas. Quem precisa trabalhar e está trabalhando, precisa seguir a sua rotina. Não tem escolha. Quem pode ficar em casa (milhões pelo país afora estão trabalhando em casa, por exemplo), fique. Só saia mantendo todas as normas de segurança. Um vírus que já matou oficialmente mais de 75.000 brasileiros não é fraquinho não! 

A cada dia cai um Boeing no Brasil. Mas nem parece.... Se fossem aviões caindo diariamente mesmo, em diversos pontos do nosso território talvez o país estivesse parado mesmo. As forças armadas estariam a pleno vapor, prestando diversos serviços para minimizar as tragédias! Já a covid-19 é segunda divisão. Não merece tanta atenção assim por parte do governo federal, nem do Ministério da Saúde. Que o diga o Dr. Mandetta.

Em Muriaé e região são 57 mortes (dia 14, 14h:50m). Um ônibus inteiro, lotado. Essas pessoas têm nome, têm uma história. Pessoas, com nome. João, Maria, José, Joana... Famílias, amigos, colegas, os profissionais da saúde que cuidaram delas... Tragédias. Cada uma delas. Não adianta "culpar" os mortos. Nem "justificar" as comorbidades, como se fosse a real causa da morte. O que mata são os efeitos do vírus. O inimigo é o vírus, parecemos nos esquecer. Quem nega a pandemia, além de estar contribuindo para a continuidade da doença, é um ser insensível diante da tragédia. É falta de amor ao próximo, mesmo. O "sinto muito" cuspido por sua boca, não tem valência alguma. Não vem do coração, nem de uma mente sã. 

Portanto, os cuidados básicos como as práticas higiênicas individuais e coletivas precisam ser mantidos, o tempo todo. O uso correto de máscaras, sua qualidade, uso e descarte são de fundamental importância. Para a pessoa e, sobretudo, pelos outros. Sejamos racionais: é melhor usar máscara (apesar de incômodo, pelo menos para mim), do que ir para o hospital e a situação se agravar. Estar internado é triste, doloroso, solitário, massacrante. Mas ser entubado é sofrível, torturante. Porém, necessário.

As empresas, firmas, lojas, o comércio em geral, os locais de acesso público precisam cumprir as regras determinadas pelas Resoluções do Comitê Local da Crise da Covid-19, procurando o máximo possível manter a segurança sanitária a seus trabalhadores (as), clientes e visitantes.

Na segunda questão gostaria de chamar a sua reflexão para o seguinte: VAMOS PENSAR NA QUESTÃO ECONÔMICA. Como toda questão social, é um caso complexo. A própria pandemia "recriou" ou "extinguiu", pelo menos temporariamente, centenas de profissões.

Não me alongarei muito sobre a questão econômica. Tomaria muito o tempo de vocês. Mas a sentença é clara: se está ruim agora, irá piorar certamente. "O Bicho vai pegar" com força, com raiva, na veia jugular. Menos para os muito ricos.

E a economia não muda como num trocar de roupas. Pelo contrário, é como se fosse uma ferida que leva tempo para cicatrizar e necessita de remédios constantes.

Muito provavelmente, teremos um restante de 2020 e 2021, com muitas indefinições econômicas. Da mesma forma que muitos possam vir a ganhar com a crise, muitos poderão perder. Certamente, a nossa moeda perderá ainda mais valor. O poder de compra cairá, portanto, a procura por crédito aumentará. Aumentarão os juros também. Crédito fácil não quer dizer crédito justo.

A questão não é nem "ter ou não um dinheirinho". É não se endividar. E, caso venha a contrair qualquer forma de empréstimo, que não "entregue a sua vida". É preciso enxergar um pouco mais à frente aquilo que estamos chamando de "a volta do normal", ou o "novo normal". Em resumo: não gaste além do necessário. O famoso e popular "não inventa moda! ".

As palavras acima podem parecer desnecessárias ou repetitivas. Talvez sejam. Inclusive, pensando pelo lado positivo, eu torço profundamente para que sejam mesmo inúteis e que eu esteja "chovendo no molhado".

Obrigado a vocês, prezados leitores e leitoras.



Gazeta de Muriaé
HPMAIS