Gazeta de Muriaé
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Em 16/06/2020 às 18h17

PANDEMIA E ECONOMIA: AS SEQUELAS SERÃO INEVITÁVEIS

Nicélio Amaral Barros (Historiador e Doutorando em História Econômica pela Universidade de São Paulo - USP)

O Brasil subestimou - e continua - os efeitos da pandemia do coronavírus.

Medidas que deveriam ter sido tomadas, pelo menos no início do mês de março, pelo governo federal, não o foram. Autoridades das áreas da Saúde (combate), Educação (pesquisa) e Comunicação (informações) em momento algum formaram um consórcio em prol da população.

Presidência e Ministério da Saúde têm "batido cabeças" desde o início da crise sanitária. Sobrou para os governadores e prefeitos, numa completa "anarquia". No sentido ruim do termo.

À crise sanitária, adveio a crise política. Tudo junto e misturado.

As decisões na área econômica, além de absolutamente restritas, vem sendo conduzidas de maneira atabalhoada e estimulando confusões, aglomerações e afetando a capacidade de sucesso do isolamento social.

As parcelas do auxílio básico emergencial (depois de mais uma "luta" entre deputados federais, senadores e presidência da República) nos valores de $600,00 a R$1.200,00 para trabalhadores desempregados e informais vem sendo gerida de modo estranho, para dizer o mínimo.

Créditos e diminuição sobre os impostos de consumo, efetivamente ainda não chegaram às mãos de pequenas, micros e médias firmas e empresas.

Diante deste cenário, somado à multidão de desempregados e trabalhadores informais, surgida antes da pandemia, irá trazer uma consequência inevitável ao final da crise sanitária: sequelas terríveis no campo socioeconômico. 

Tais sequelas irão se manifestar sobre o consumo, o lucro, o emprego, a arrecadação fiscal e tributária de Municípios, Estados e União, os direitos trabalhistas, o aumento da informalidade, a arrecadação da Previdência Social, a perda de direitos trabalhistas, falências, concordatas e fechamento de firmas nas áreas de serviços e indústrias.

A sequela ampliará a dependência do país do setor agroexportador, o que afetará sensivelmente a produção rural familiar, as economias locais e as desigualdades sociais nas cidades, sejam pequenas, médias ou grandes.

Os efeitos das sequelas da crise sanitária (desastrosamente gerida) na economia brasileira, irá fazer com que a retomada do crescimento e desenvolvimento do Brasil sofra um atraso de anos, talvez de uma década inteira.

O papo de que o brasileiro sempre encontra um "jeitinho" não irá funcionar. O poder de compra da moeda, o Real, será implodido. Sem renda real, as classes médias e pobres (não miseráveis) continuarão a usar, demasiadamente, o crédito, sobretudo via o cartão "salvador".

Aumentará a dívida interna e o poder dos Bancos e agências financiadoras. Um caos no médio prazo. Bens imobiliários, entre outros, perderão valor e agiotas (em todas as cidades) ganharão fortunas.

As sequelas serão um "chumbo grosso" sobre a maioria da população. Há diversos meios em termos de políticas econômicas e sociais para diminui-las. Mas dependerá dos rumos políticos do país.

Vejo mais os efeitos das sequelas econômicas no futuro próximo que mudanças políticas. No Brasil, a explosão do coronavírus, em vez de nos unir, trouxe consequências ideológicas, religiosas, partidárias e anticientíficas. Escancarou o nosso egoísmo e nossa brutalidade medieval. 

A maioria dos próprios "sequelados" nem mesmo acreditam na doença!     

E pior que qualquer crise (sanitária, política, econômica, social), é quando ela toma o rumo do ódio, da ignorância e da intolerância.  



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