Em 24/10/2019 às 11h43
Cerca de cem pessoas, entre membros de entidades e cidadãos de municípios do entorno do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro, na Zona da Mata, disseram não à atividade minerária na região. Eles participaram de audiência da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), nesta quarta-feira (23/10/19).
Solicitada pela deputada Beatriz Cerqueira (PT), a reunião teve como objetivo debater os impactos socioeconômicos e ambientais da mineração nessas localidades, incluindo a violação de direitos da população atingida por esses empreendimentos.
Jean Carlos Martins, do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), foi enfático: "a mineração não tem o que oferecer a esta população; se for preciso, vamos para a frente das máquinas".
De acordo com ele, há ilegalidades nos processos de licenciamento ambiental, como o desrespeito a uma Lei municipal de Rosário da Limeira a qual prevê que não pode haver mineração em área de preservação permanente (APA). Outro problema é que a mineração estaria particionando os relatórios de impacto ambiental, o que impede os órgãos de ter uma visão do impacto total dos empreendimentos.
O professor do Instituto Federal de Educação do Sudeste de Minas, Lucas Magno destacou que a Serra do Brigadeiro tem uma das maiores jazidas brasileiras de bauxita. A substância, que se transforma em alumínio após o refino, é cobiçada principalmente pela Companhia Brasileira de Alumínio (CBA).
Lucas explica que a bauxita torna poroso o solo onde é encontrada, criando grandes reservatórios de água. "Por isso, nossa região é considerada uma verdadeira caixa d'água. Se retirarem a bauxita, esse processo geológico será freado", alertou. Com isso, seria deteriorado um grande patrimônio hídrico, que inclui diversas nascentes que ajudam na formação de rios como o Doce e o Paraíba do Sul.
O professor acrescentou que, se todas as áreas pleiteadas pela CBA forem concedidas, a região ficará como um "queijo suíço, cheio de buracos". E invadiria APAs de três municípios da Mata: em Pico do Itajuru (Muriaé), Serra das Aranhas (Rosário de Limeira) e Rio Preto (São Sebastião da Vargem Alegre).
Agroecologia - Vários convidados reforçaram a vocação da região para a atividade agropecuária. Adriana Ribeiro, da Cooperativa dos Produtores da Agricultura Familiar Solidária, enfatizou que a região é rica em fauna, flora, água e agricultura familiar, que sustentam a população. "Nossa região tem associações e cooperativas que só existem porque na ponta tem o agricultor. Essa produção não combina com a mineração", rechaçou.
Isaías Freitas, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Miradouro, reforçou que a cidade é mantida com a agricultura familiar. Gilsilene Mendes, coordenadora da Comissão Pastoral da Terra (CPT), disse que a região constitui atualmente um polo agroecológico da Zona da Mata, com 70% da produção local extraída da agricultura familiar.
Religioso foi ameaçado por se opor à mineração
O frei Gilberto Teixeira, vigário da Paróquia Santo Antônio, em Belisário (Mata), agradeceu o apoio dos parlamentares à causa. Afirmou que isso representa um contraponto importante para pessoas que, como ele, sofrem ameaças. E lembrou que foi incluído num dos programas de proteção da Secretaria de Estado de Direitos Humanos, após ser ameaçado de morte em 2017 por pessoas ligadas à mineração.
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