O presidente Jair Bolsonaro entregou na terça-feira, (4), à Câmara dos Deputados um projeto de lei que muda o Código de
Trânsito Brasileiro. A proposta amplia de 20 para 40 pontos o limite para
suspensão da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e elimina exames
toxicológicos para motoristas profissionais.
As duas medidas eram promessas feitas por Bolsonaro a caminhoneiros ainda
durante a campanha. Segundo especialistas, a ampliação do limite de pontos traz
risco de elevar o número de acidentes e mortes no trânsito.
O presidente foi pessoalmente apresentar a proposta ao lado dos ministros da
Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas. Os
dois são responsáveis, respectivamente, pela articulação política e pela
interlocução com os caminhoneiros, que chegaram a ameaçar novas paralisações,
mas recuaram após o governo mudar a política de preço de combustíveis e sinalizar
com as mudanças na lei de trânsito.
Para que as mudanças entrem em vigor, o projeto precisará ser discutido no
âmbito das comissões e, depois de aprovado, apreciado pelo plenário da Câmara e
do Senado. A líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP),
espera que seja criada uma comissão especial e a proposta fique em análise por
45 dias antes de ir à votação no plenário.
A decisão da tramitação é do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
"É um projeto que parece simples, mas atinge todos do Brasil. Todo mundo é
motorista ou anda de uma forma ou de outra em um veículo automotor", disse
Bolsonaro.
As modificações vinham sendo anunciadas pelo governo nas últimas semanas, em
agendas públicas e nas redes sociais. Segundo Freitas, a atual
"complexidade" do trânsito no País tem criado mais riscos para
condutor levar uma autuação. "Estamos desburocratizando." O Código,
diz, é antigo e precisa de atualização. "Dois terços das penalidades são
graves ou gravíssimas. Acaba sendo muito fácil para o cidadão perder a
carteira. E isso tem se mostrado ineficaz. Os Detrans não têm estrutura para
atender os casos."
Freitas negou que a mudança vá causar aumento de acidentes e mortes. "Há
muita ilação e pouca base jurídica para isso (esse argumento)."
Questionado pela reportagem sobre estudos técnicos que embasem a proposta, o
governo não apresentou nenhum material.
Mais mudanças
A proposta também aumenta automaticamente de cinco para dez anos a validade da
CNH para motoristas até 65 anos. Para idosos, o prazo passa de dois anos e meio
para cinco anos.
A proposta não prevê anistia às CNHs já suspensas. Segundo o Ministério da Infraestrutura,
hoje o processo de suspensão em casos de infrações graves e gravíssimas passa
por até seis instâncias. Pela proposta, seriam três instâncias até o motorista
perder o direito de dirigir.
O texto acaba com multa para condutores que guiem sem farol baixo ligado de
dia. O mesmo vale para o uso de cadeirinhas para crianças - haverá só
advertência por escrito.
No entendimento do governo, o projeto também acaba com a exclusividade de
Departamentos Estaduais de Trânsito na definição de clínicas que podem dar
atestado de saúde para emitir a CNH. Os atestados, incluindo os profissionais,
poderão ser emitidos por qualquer médico, diz o governo. Para especialistas,
isso não está explícito no texto.
O texto ainda dá poderes ao Conselho Nacional de Trânsito (Contran) de
uniformizar a interpretação e os procedimentos quanto às leis de trânsito e
determina a competência para Departamento Nacional de Trânsito (Denatran)
centralizar documentos eletrônicos.