Em 23/04/2019 às 17h43
O novo campo de estudos chamado de Economia Comportamental parte sobretudo de dois pontos: primeiro, quanto mais se "criminalizar" a política ou os políticos, pior. O que devemos fazer é melhorar a política e os políticos. A política é a administração da sociedade. O contrário dela seria a anarquia social. Podemos odiar a política, votar nulo, dizer que somos isentos a ela. Mas tudo isso é pura bobagem. Não podemos conviver em sociedade sem a gestão política e a democracia. E isso vale para todas as sociedades conhecidas na História, sejam as atuais ou aquelas que foram extintas.
Em segundo lugar: se a política vai mal, a economia, por consequência também irá. E não adianta aqueles argumentos do tipo: o voto não deveria ser obrigatório. Mesmo em países como os Estados Unidos da América, onde não existe a obrigatoriedade de se comparecer às urnas, todos os cidadãos cobram uma política econômica, fiscal, tributária, ambiental, de infraestrutura, entre outras, que garantam emprego e bem-estar. Votando ou não, todos nós iremos cobrar e emitirmos nossas opiniões.
Portanto, economia é basicamente psicologia. Se o cenário, o ambiente social vai bem, o cidadão se sentirá forte e seguro para tomar as suas decisões. Como nas palavras do PhD norte-americano, Alain Samson: "Pense na última vez que você comprou um produto personalizável. Talvez fosse um laptop. Você pode ter decidido simplificar sua tomada de decisão, optando por uma marca popular ou aquela que já possuía no passado. Você pode então ter visitado o site do fabricante para fazer seu pedido. Mas o processo de tomada de decisão não parou por aí, pois agora você precisava personalizar seu modelo escolhendo entre diferentes atributos do produto (velocidade de processamento, capacidade do disco rígido, tamanho da tela etc.) e ainda não tinha certeza sobre quais recursos realmente precisava. Nesta fase, a maioria dos fabricantes de tecnologia mostrará um modelo básico com opções que podem ser alteradas de acordo com as preferências do comprador."
Duas questões vêm à tona: somente compramos laptops se estivermos precisando investir, seja de qualquer forma. Desde diversão até trabalhos complexos. Por conseguinte, só iremos adquirir o melhor produto, personalizado à nossa preferência diante das condições de custos e de pagamentos. A outra questão é: preciso de um laptop, porém, agora é um sonho. Estou sem condições alguma!
Aí está o ponto! Quando a crise bate, deixamos de realizar os nossos sonhos. A própria economia nos leva a um sentimento de frustração, de adiamento de sonhos, de falta de possibilidade de investir em nós mesmos. Somos vencidos pela letargia e resignação. Veja o título da matéria do jornal A Folha de São Paulo, em 15 de abril de 2019: "Economia está em contração há nove meses". O que vamos fazer? Chamar um obstetra? Não irá resolver, certamente.
A Economia Comportamental depende das condições macroeconômicas, de responsabilidade daqueles os quais nós elegemos e das nossas próprias decisões pessoais. Faz quanto tempo que na cidade de Muriaé não é inaugurada uma empresa que dê dezenas, centenas de empregos. Nos últimos tempos, uma ou duas. Já no campo da microeconomia, estão sobrando bares, entregas de marmitex, food trucks e salões informais de beleza. Haverá outras saídas, seja no âmbito da política ou nas decisões econômicas individuais ou familiares? É o que iremos discutir e abordar no próximo artigo. Mas, para finalizar o texto dessa edição, digo que "formiga sem formigueiro, nada vale". O comportamento econômico é social e é disso que as autoridades públicas, empresariais, associações de trabalhadores, comunitárias, igrejas, entre outras precisam debater. Sem egoísmo ou partidarismos. O contrário é o tsunami, vindo rápido em nossas direções. Nada trágico, somente a realidade. Infelizmente.
Autor: Nicélio Amaral Barros (Doutorando em História Econômica pela USP)
Fonte: Publicado na Edição 2192 do Jornal Gazeta de Muriaé