Gazeta de Muriaé
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Em 29/05/2009 às 11h48

Grande Hotel Muriahé

A preservação da Memória como forma de manutenção da própria história do município

Aproveitando o momento histórico em que o povo de Muriaé vive nesse momento, com a inauguração do Centro Cultural e Turístico Regional Dr. Pio Soares Canêdo no dia 29/05/2009, após a restauração do PALACETE VENTURA, então conhecido como Grande Hotel Muriahe, é bom ressaltar um pouco de sua História visto que foi detectado informações divergentes em relação à propriedade e função inicial do Grande Hotel Muriahe - PALACETE VENTURA para que ela não seja apagada de nossas memórias, pois é um momento ímpar para todos nós onde o passado e presente se entrelaçam.
  
O PALACETE VENTURA foi construído por João Ventura Junior dando-se  início à sua obra em 1893 e finalizou em 1904 como impressa na fachada do prédio com intuito inicial de servir como residência particular para sua família.
 
Segundo relatos de sua sobrinha professora Maria Conceição Ventura, filha de seu irmão Manoel Ventura, no período da sua construção, algumas pessoas ridicularizavam a obra dizendo que seria “um galinheiro” por ser tratar do proprietário um homem bem sucedido, porém seguro.
João sentiu-se ofendido! Mas não mediu esforços financeiros.
  
Na época da construção a obra foi visitada por estudantes da Faculdade de Engenharia de Ouro Preto que vinham para observar as técnicas empregadas, consideradas avançadas para aquela época.
   
Até a data presente não se sabe o autor do projeto da edificação. Mas sabe-se que a edificação tem um estilo eclético, também classificado como pertencente ao neoclassicismo segundo arquiteto Yves Bruand quando diz “ o que se convencionou chamar de neoclassicismo, na realidade não passa de uma forma de ecletismo, onde é possível encontrar justapostos todos os estilos que utilizam colunas, cornijas e frontões...”  ( Arquitetura Contemporânea no Brasil. São Paulo, perspectiva, 1981, p.33). (IEPHA).
   
Antônio Mendes Ventura, primo de João Ventura, que acompanhava a construção do prédio contratou serviços de artistas residentes nas proximidades de Cataguases para seu interior. Para o exterior foi trazida de Portugal três estátuas representando O COMÉRCIO, AS ARTES e A INDÚSTRIA.
“ A estatuária que arremata a platibanda, composta por figuras humanas com alegoria ao comércio, indústria e artes, é de procedência portuguesa, da região do Porto, executada por José P. Valente, conforme inscrições nas mesmas.”
( IEPHA- Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico).
  
Só mais tarde viria a se transformar em um hotel, quando o Sr. João Ventura, considerando um espaço grandioso, arrenda-o tornando-se hotel.
  
O Grande Hotel Muriahe recebeu em seus aposentos pessoas ilustres como o Presidente da República Getúlio Vargas e moradores: o professor José Eutrópio onde residia e Sr. Mário Monteiro de Castro que morou nesta cidade e quando João retorna a Portugal deixou-o administrando o prédio.
  
“O Grande Hotel Muriahe era palco de eventos culturais como saraus e eventos sociais como casamentos, batizados e apresentações diversas em que sua bela fachada aparecia como pano de fotos mais variadas.” ( BIZZO, Márcia Canedo- Centro Cultural Grande Hotel Muriahe Restauração e Reciclagem do Grande Hotel Muriahe, Rio de janeiro, Bennet.2004,5 capítulos,108 pgs.)
   
Diferente de muitos estrangeiros que para aqui vieram em busca de fortunas, João Ventura Junior resolveu investir e residir nas terras brasileiras e para isso escolheu a cidade então chamada de São Paulo de Muriahe.
   
Ilustre comerciante português veio juntamente com seu irmão Manoel Ventura e mais tarde seu primo Antônio Mendes Ventura de apenas 12 anos de idade.
   
Além deste prédio, João teve grande comércio no bairro da Barra devido sua visão comercial, tornando-se forte comerciante nesse bairro.
  
Proprietário de várias casas na Rua Coronel Domiciano entre elas, a casa de nº 9, que ainda existe pertencente atualmente aos herdeiros de Antônio Mendes Ventura, seu primo, que adquiriu do Sr. João Ventura mais tarde. Tornou-se sócio do Sr. Amador Pinheiro de Barros, proprietário de um armazém de café (hoje o local é Unibanco) que construíram um prédio na Rua São Pedro, para instalar uma fábrica de saco de linhagem.
   
Depois que aqui se estabeleceu, tornou-se homem respeitado pela população muriaeense e por políticos, onde foi condecorado com o título de “Coronel” em 1911 pelo então Presidente da República Marechal Hermes da Fonseca.
  
Casou-se com Maria de Castro, “Dona Cocota”, filha do Coronel Domiciano .
Devido à moléstia pela qual sua esposa D. Maria passava, João buscou tratamentos no velho continente, não obtendo bons resultados, falecendo “D. Cocota” sem deixar filhos.
   
João Ventura Junior teve uma única filha, Joanna Valdevies, que recebeu de doação do seu pai João o Palacete Ventura em 23 de outubro de 1918, registrada em 26 do mesmo mês e ano sob nº11.190 Fls.247 do Lº3-I, quando, por motivos de saúde, João retorna a sua terra natal, Portugal.
  
Joanna Valdevies estudou nesta cidade, tornando-se professora e casou-se com Antônio de Almeida Policarpo, natural de São Paulo. Mais tarde, Joanna mudou-se para Portugal, seguindo com seu marido para acompanhar o tratamento de seu pai e dar continuidade aos estudos de seu esposo.
 
Em Portugal, Joanna Valdevies de Almeida Policarpo faleceu juntamente a seu filho, não deixando herdeiros, ficando assim seus bens para seu esposo Antônio que faleceu após cinco anos do falecimento de sua esposa e filho.
  
Hoje os atuais proprietários deste imóvel são os sobrinhos de Antônio de A. Policarpo como consta no Registro de Imóveis do Cartório Pacheco. Amando José P. de Leão Policarpo, português professor residente em Coimbra-Portugal, Mª José P. L. Policarpo P. das Neves, casada com José C. P. das Neves, portugueses, residentes na cidade da Kraainen – Bélgica, Jorge A. R. de A. Policarpo, português, advogado residente na cidade de Porto – Portugal.
 
Numa madrugada fatídica por volta de 24 horas do dia 25 para 26 de fevereiro de 1998, o Grande Hotel Muriahe – Palacete Ventura ardeu em fogo!
Sua fachada foi tombada pelo Patrimônio Histórico dando-se início a sua restauração em 13 de julho de 2006.
 
Ainda hoje, encontra-se viva e residente nessa cidade sua sobrinha professora e ex-diretora Maria Conceição Ventura que sabiamente diz:
 
“ Como a História nos prega peças e fogo também, há quase 100 anos, nem sequer conhecem uma rua com o nome de um homem ilustre e de tão grandes empreendimentos para nossa Muriaé.  Enfim, homenagem ao “Palacete Ventura” que precisou ergue-se das cinzas”.

Juliana Ventura Ferreira Rodrigues
Historiadora pela FAFIC –Campos dos Goitacazes-RJ e Turismóloga pela FAMINAS- Muriaé-MG.

“ A cultura é tudo aquilo que nos faz viver, mais que sobreviver”

Autor: Juliana Ventura Ferreira Rodrigues

Fonte: Gazeta de Muriaé



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